quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Sócrates acertou na mouche: ele é o líder que a direita gostaria de ter...

Não nutro qualquer ódio primário a Sócrates. Também não pertenço ao grupo de patetas que lhe atribuem o exclusivo das responsabilidades pela situação a que o país chegou. Mas também não tenho por ele qualquer simpatia. Irrita-me que o digam um homem de esquerda depois do código laboral que aprovou, do desmantelamento das carreiras da Administração Pública e de serviços públicos que promoveu, dos negócios escuros e relações opacas que estabeleceu com os grandes interesses económicos, da austeridade que iniciou, apenas mais branda do que a actual por ter acontecido primeiro, da subserviência à Europa do Tratado de Lisboa que ratificou à revelia de uma consulta popular. Não sou daqueles que se contentam em pertencer a esta esquerda que está tão à direita do centro e que nunca sairá daí enquanto se cultivar como se cultiva a falta de memória, enquanto o não ser tão mau continuar a ser confundido com ser melhor, enquanto continuarmos a homenagear os homens do problema e a ostracizar os homens da solução. Sócrates foi um dos nossos homens do problema. Foi apenas um, Mas foi. Debater o futuro não é o mesmo que reescrever o passado. Passamos  a vida a reabilitar os nossos vilões de estimação. E depois queixamo-nos que estamos sempre a tropeçar nas mesmas pedras.

Via O país do Burro

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