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No passado dia 26 de Outubro de 2013, demasiada gente, e alguma do jornalismo, nos
contactou, ou tentou contactar, durante o dia, pedindo-nos uma tomada de
posição ou uma declaração (do autor destas linhas, e/ou do CEMAR) acerca do
novo caso agora acontecido: mais quatro pescadores vítimas de naufrágio fatal
na barra da foz do rio Mondego, no mesmo local, na saída do porto da Figueira
da Foz.
Nada dissemos, e nada teremos a dizer. A única declaração que alguma vez
poderíamos fazer, em resposta a uma nova situação como esta, em Outubro de
2013, tal como já havia acontecido há alguns poucos meses atrás, quando da
situação anterior, em Abril deste mesmo ano corrente (quando na Foz do Mondego
morreu não somente um velejador alemão mas também um agente português da Polícia
Marítima, da capitania da Figueira, que estava a tentar salvá-lo), ou tal como
vai acontecer em qualquer uma das próximas situações possíveis futuras, é
simplesmente repetirmos que nada mais teremos nunca a acrescentar em relação ao
que, sobre isso, já havíamos antes dito, e escrito, e assinado, na altura
própria, há muito tempo atrás, em 01.03.2006, em 01.12.2007, e em 01.10.2008 (e
que, por isso, depois, o jornal A Voz da Figueira noticiou em 26.11.2008). O que havíamos dito, escrito, e assinado, quando,
sobre isso, ninguém mais disse, nem escreveu, nem assinou, o que havia para ser
dito, escrito, e assinado.
Agora, só poderemos manifestar o nosso luto, e juntar os nossos sentimentos
às orações daqueles que forem religiosos, e juntar o nosso profundo lamento ao
lamento daqueles que não o forem mas, em todo o caso, como nós, sentirem o
mesmo tipo de respeito e de admiração que nós sentimos por estes homens simples
e corajosos – corajosos por profissão… –, que são os Pescadores Portugueses.
Estes homens que, neste caso, em Outubro de 2013, até eram pescadores da Póvoa,
e portanto descendentes dos célebres "Poveiros" do século XIX e do
tempo do “Cego do Maio”, etc. (os quais tinham, desde sempre, secularmente,
íntimas ligações à comunidade dos pescadores "Buarqueiros", da Foz do
Mondego), os "Poveiros" que o poeta António Nobre evocou no “Só” e
que, juntamente com os seus parentes de Buarcos (Foz do Mondego), eram os
melhores e mais corajosos pescadores do alto mar, em Portugal inteiro.
Lamentamos mais esta tragédia na Foz do Mondego, tal como lamentámos a
anterior, e tal como iremos lamentar a próxima. E a razão porque, desde
2006-2008, a previmos, é simples.
Nada de muito especial, em termos práticos, e de experiência pessoal,
sabemos sequer de mar. Para além das leituras teóricas e históricas, o pouco
que conseguimos saber de prático, para podermos compreender, e prever o óbvio,
aprendemo-lo com o que ouvimos da boca de quem sempre soube mesmo muito de mar,
a sério, pessoal e familiarmente (muito... de muitas vidas inteiras, e de
muitas gerações): pessoas como os nossos caros Amigos Capitão João Pereira
Mano, e Senhor Manuel Luís Pata, a quem sempre ouvimos prever que este tipo de
coisas iria acontecer, e sempre ouvimos dizer, alto e bom som “O mar não gosta de quem lhe vira a cara. O mar enfrenta-se de frente. O
mar não gosta de cobardes. O mar não se encara de lado, e de viés. O mar não se
enfrenta de través, para não se ficar atravessado nele”. Sabedoria antiga, e
essencial, de Pescadores da “Arte” (aprendida, em alguns séculos, nos simples
“Barcos-da-Arte”, da Cova, e de Lavos, iguais aos do Furadouro, da Torreira ou
de Mira)…
É mais difícil enfrentar o mar quando existem molhes de protecção de portos
orientados obliquamente em relação à direcção dominante das vagas: molhes que,
forçosamente, obrigam os homens das embarcações pequenas — os pobres
pescadores, que andam a ganhar a sua vida com tanta dificuldade — a terem
mesmo que enfrentar a rebentação de través (!), e por isso não conseguirem
vará-la… e ficarem atravessados, e assim naufragarem à saída do seu próprio
porto.
O mar enfrenta-se com formação profissional e técnica dada e exigida aos
Pescadores (que são quem tem que lá andar), e com meios materiais e
equipamentos suficientes dados à Marinha de Guerra (que é quem tem que ir lá salvá-los
quando é preciso), e com planeamentos ambientais e urbanísticos (ordenamentos
da orla costeira) sustentáveis e inteligentes, que não criem mais problemas do
que aqueles que possam resolver.
Alfredo Pinheiro Marques
Centro de Estudos do Mar - CEMAR
(Figueira da Foz - Praia de Mira)
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