“... o artigo era sobre call centers, linhas de montagem de telefonistas discando que são o mesmo
que Charlot aparafusando no Tempos Modernos e por ordenados equivalentes aos desses tempos
antigos. Pois essa regressão desumana seria "uma oportunidade extraordinária"
para a nossa economia. Uma conjunção de fatores - "competências em línguas
estrangeiras, boa infraestrutura tecnológica, salários baixos e desempregados
em desespero" - faria de Portugal um paraíso para as centrais de
atendimento. A homens trolhas e mulheres com bigode, as duas características
com que nos pintam mal, juntar-se-ia a nossa mania para iniciar qualquer
conversa, assim: "Em que posso ajudá-lo?" E em várias línguas! Triste
desandar de um povo que deu mundos ao mundo, ser destinado a esperar que o
mundo venha ter com ele em chamadas telefónicas. No dizer de um dos
entusiasmados com os call centers, a
nossa estrutura tecnológia é boa e a nossa rede de fibra é a melhor do mundo. À
partida isso parecia ser uma boa notícia, não é? Pois, pelos vistos, parece que
vamos ter de pagar por isso... Pergunto: de que me vale telefonar a pedir
socorro se é um português que me atende?”
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