Fiquei a saber que Poiares Maduro acha que salvar o euro é o maior desafio da Europa (eu pensava que seria combater o desemprego, mas a verdade é que o “sonho” europeu destas elites parece valer bem o pesadelo de milhões de desempregados). Fiquei também a saber, através de mais uma inenarrável peça de Eva Gaspar, que Maduro já garantiu que o PIB islandês até caiu cerca 40%, graças à crise financeira. Consultando as estatísticas islandesas concluo que caiu um total de cerca de 10%, em 2009 e 2010, e que a recuperação já se iniciou, com os níveis de desemprego conhecidos, ou seja, nunca se ultrapassou os 8% (Portugal antes do euro era assim em termos de taxa de desemprego). É claro que Maduro fala do rendimento medido em dólares, o que diz muito sobre a natureza de classe do seu raciocínio (sempre preocupado com quem viaja e com quem importa carros e tal) e o que obviamente toma em conta a vital desvalorização da moeda islandesa (para ajudar ao mais rápido ajustamento da economia). Medida desta forma a crise nem se vê em Portugal, até porque o euro se valorizou (a crise não existe para quem tem emprego garantido sem cortes e viaja muito para os EUA). É claro que para quem vive na Islândia essa medida tem pouco significado. O que conta é mesmo a evolução do rendimento real, do rendimento nominal descontada a inflação. De resto, este tipo de exercício diz muito sobre o tipo de argumentos que demasiados defensores do euro fazem e sobre os jornalistas que os reproduzem com tanto entusiasmo. Temos mais um para sacrificar o país em nome dos amanhãs europeus que cantam. Isto não vai correr bem.
João Rodrigues
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