sábado, 13 de abril de 2013

«Este Governo parecia estar de pedra e cal e agora abana por todos os lados»

A Sociedade Instrução Tavaredense encheu-se a noite passada para receber o secretário-geral do Partido Comunista Português.


Jerónimo de Sousa afirmou que o actual Governo chegou ao poder “prometendo o que sabia que não ia cumprir”,  “fazendo agora da chantagem a sua tábua de salvação”. O líder comunista considerou que a decisão do Tribunal Constitucional (TC), que “obriga o Governo a devolver os subsídios que roubou”, foi dramatizada pelo PSD para ser, juntamente com a própria Constituição da República Portuguesa, “a origem de todos os problemas actuais e riscos futuros do país” quando, assegurou Jerónimo de Sousa, estão em causa “apenas umas décimas” do défice das contas públicas. “Este Governo é responsável por um valor que equivale a três vezes mais do que o representado pelas quatro normas chumbadas pelo TC”, garantiu. “Este Governo é que já destruiu 430.000 empregos; já empurrou para a emigração mais de 250.000 pessoas”, acusou. O objectivo da dramatização pelo Governo, defendeu o secretário-geral do PCP, é levar avante “as políticas de liquidação das prestações sociais e dos serviços públicos (…) favorecendo interesses privados”, como, acredita, “há muito estava programado pelo actual Governo com o FMI e a Troika”. A solução, diz Jerónimo de Sousa, é “devolver a palavra ao povo” e “não dar tréguas a esta política”. Defendendo “o valor estratégico da luta”, o líder comunista sublinhou que “este Governo parecia estar de pedra e cal e agora abana por todos os lados”.

Estaleiros Navais do Mondego, ferrovia e arroz

Jerónimo de Sousa não esqueceu, na sua intervenção, os problemas que afectam mais directamente a Figueira da Foz. Sobre os Estaleiros Navais do Mondego (ENM), lembrou “os 236 navios construídos”, e a mão-de-obra altamente especializada numa área crucial para o país, lamentando “todo o processo que culminou na venda a uma empresa sem condições financeiras nem experiência na construção naval”.
Aos produtores de arroz do Baixo Mondego, Jerónimo de Sousa deixou uma palavra de solidariedade, apontando o dedo aos sucessivos ministros que “vão sempre dizendo que há dinheiro para a obra hidroagrícola, mas esta nunca avança”.
No que respeita à ferrovia, o líder comunista acusou PS e PSD de a destruírem, em conjunto. “Primeiro foram as oficinas da EMEF, agora preparam-se para encerrar a Linha do Oeste e desmantelar o ramal Pampilhosa-Figueira da Foz”, concretizou.

Aumentar impostos… ao capital

“Ora agora governas tu, mal; ora agora governo eu, mal”, ironizou Jerónimo de Sousa, a propósito dos chamados partidos do arco do poder. A receita, partilhada também, “continuará a ser a de aumentar impostos e sacrifícios sempre aos mesmos, deixando de fora o capital”. Com críticas directas aos “donos” dos grandes grupos económicos que retiraram as suas sedes fiscais de Portugal, “Pingos Doces e Continentes”, o secretário-geral do PCP lamentou que “esses capitalistas com as costas quentes ainda tenham a arrogância de defender que a solução passa por salários ainda mais baixo, julgando que podem falar como antes do 25 de Abril”.
A manter-se o rumo, Jerónimo de Sousa afirma que “o desemprego aumentará, o país ficará mais pobre e nunca conseguirá pagar a dívida”. Em sentido contrário, o PCP defende “a renegociação total da dívida, em todos dos prazos”, já que as modificações parciais se destinam, acredita, a perpetuar a dívida e a dependência, assegurando juros cada vez maiores aos credores. Apoiar políticas de aumento da produção, de reindustrialização, de agricultura e das pescas, pondo travão às PPPs onde, acusa, “a montanha pariu um rato”, e às rendas excessivas nas energias, “em que nos atiraram areia para os olhos”, é a solução defendida pelo PCP, “tendo como objectivo o pleno emprego”.

« É possível derrotar este Governo e salvar o país»

“Portugal precisa de um Governo que não seja um pau mandado”, disse Jerónimo de Sousa. Para que isso aconteça, sublinhou, “é preciso acreditar que é possível derrotar este Governo e salvar o país” e, acrescentou, “não há solução patriótica e de Esquerda sem o PCP”.
“Queremos ruptura, mudança e participação numa política de Esquerda”, afirmou, “mas não queremos um ou dois ministérios, para depois sermos co-responsáveis de uma política de Direita”, concluiu.

Texto de Andreia Lemos, sacado ao Figueira na Hora
Fotos António Agostinho

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