sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Fechou a velha Nau

A Figueira teve cafés míticos,  ao mesmo tempo espaços do património cultural e da história da cidade, que, ao longo doas anos,  foram frequentados e coabitados por muitas gerações ligadas a diversas actividades profissionais: operários, homens do mar, intelectuais, personalidades de diversas artes, gráficos, sindicalistas, políticos e de muita outra gente que, apesar de anónima, se deleitava com o prazer dos convívios e das conversas - as famosas e proveitosas tertúlias.
Entretanto, as coisas foram mudando. A chamada vida moderna trouxe  transformações profundas. Dos hábitos coloquiais, vividos à volta da mesa do café, acabámos por chegar às  patéticas práticas de vida individualista e solitária dos dias que correm.
Hoje, nos balcões dos cafés, e não nas mesas,  mulheres e homens,  limitam-se a engolir, o mais rápido possível, tostas mistas, sandes de ovo com alface, pastéis de bacalhau, folhados -  a chamada comida rápida que apenas serve para enganar o estomago, acompanhada de uma bebida ou de um café.
As poucas palavras são para a empregada ou o empregado, para fazer o pedido e, antes de se irem embora, pedir a conta.
Sem capacidade de resistir a esta desumana forma de vida, grande parte dos cafés da Figueira, mesmo os mais históricos, foram ao longo dos últimos anos encerrando as portas.
Hoje, chegou a vez do velho café Nau,  um espaço que, nos anos exaltantes do prec fervilhava de vida.
A  partir da segunda metade dos anos setenta, tive o prazer de conviver, nas mesas do café Nau,  na minha opinião, com a nata da inteligência figueirense de então – Joaquim Namorado, Mário Neto, António Alves, Cerqueira da Rocha, José Martins, Gilberto Vasco, etc. …
Sou, em muito,  um produto desses convívios nas mesas da velha Nau, com  a “malta” que pensava e fazia o Barca Nova, jornal onde comecei a dar os primeiros e titubeantes passos no mundo fascinante da escrita…

1 comentário:

  1. Tb fui frequentadora do tão distinto café. Principalmente nas longas noites de verão, onde os lugares na esplanadas esgotavam. Qdo queriamos encontrar amigos ou alguém para conversar era para lá que nos dirigiamos. É pena deixar de haver estes lugares, onde a descompreção do dia a dia era partilhada e o regresso a casa era mais saudável. Infelizmente isto tem vindo a acontecer por todas as cidades, vilas e aldeias..

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