Houve um tempo, não foi há muito, em que a maioria dos
portugueses nem sabia como se lavavam os dentes e só alguns o poderiam fazer
com a torneira a correr. Os outros tinham que ir à fonte buscar água.
Nunca conheci ninguém que comesse bifes todos os dias. O que
eu conheci, desde pequenino, foi gente de barriga cheia que se escandalizava se
um pobre a queria encher. Mas isso, do mal o menos. Porém, se, além do bife, os
pobres quiserem carro e casa, então há que fazer qualquer coisa e ainda bem que
o governo não dorme.
Durante algum tempo, enquanto os ricos punham o dinheiro a
salvo nos offshore, os pobres compravam casas e carros a crédito, e ainda dava
para a picanha pois, ao contrário do que se diz na televisão, o bife nunca
chegou a todos. Mesmo assim, dizia-se que a pobreza ia acabar. Felizmente as pessoas de bom senso, (ricos, pois claro),
conseguiram evitar tal tragédia e a tendência já se inverteu: agora há pobres
em cada esquina - e são cada vez mais.
Mas dá um grande trabalho convencê-los de que não podem ter
tudo, senão deixavam de ser pobres. E que seria dos ricos se não houvesse
pobres? A quem dariam esmolas, e para quem fariam peditórios?
Um rico não é rico se não tiver a sua reserva de pobrezinhos
a quem nunca falta nada para continuar a ser pobre. Se algum se queixa, há
sempre uma palavra amiga: ai aguenta, aguenta…
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