E pronto, lá passou o orçamento para credores e outros
clientes verem, com o voto daqueles poucos portugueses que nem imaginam como é
a vida verdadeira dos outros portugueses todos, a quem dedicaram um caderno de
encargos para o Estado que a realidade se encarregará de mostrar irrealizável.
Do alto da sua altaneira retórica, investido pela missão suprema dos salvadores
das pátrias falidas, o mestre-de-obras está satisfeito: mais uma vitória contra
essa gente de coração maioritariamente socialista [e não disse PS], habituada a
viver com o que constantemente deve, como se isso fosse muito natural, como se
a boa vida fosse alguma vez para todos. Tomem e embrulhem. Já se tinham acabado
os empregos, os filhinhos todos a estudar para doutores, os carrinhos novos de
tantos em tantos anos e as férias nos brasis – agora acabou-se também tudo o
resto. É assim, de vez em quando há um mundo que se acaba. Tomem e embrulhem
este mundo novo que vos damos. E agora virem-se.
E a visão daquelas pessoas no parlamento da República (e
disse República), a votar disciplinadamente contra o povo, será inesquecível
para muitos. Carrascos, sim, como dizia uma senhora para a tevê, pais
refundadores mauzões a sovar os filhos e a mandá-los para a morte, ou então
para a pátria exógena de onde eles próprios vieram pela mão dos pais, com guia
de marcha rápida, a trote da descolonização do Soares. Carrascos sim, cheios de
raiva antiga no esquecimento, e ali chegados graças ao Sócrates dos
computadores para todos e das escolas novas de que não precisávamos – e graças,
também, aos CDSs das coligações com todos e a essa imensa maioria de
abstencionistas que não querem saber da política.
E no final, Gaspar a passar a mão pelo pêlo dos dirigentes
do PS: cuidado com os radicais da vossa paróquia que a gente ainda tem uns
assuntos para resolver juntos. E depois o inaceitável e habitual compromisso
cobarde do rapaz Seguro: isso da Constituição é com o senhor presidente.
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