Com a devida vénia, respigámos este texto do Doutor Luís de Melo Biscaia, daqui.
“Infelizmente, são já muitos que pouco ou nada se importam em valorizar a democracia, observando os seus princípios éticos e programáticos. Preferem viver sem essa preocupação, porque não sabem nem procuram saber o que é verdadeiramente esse regime político. Aproveitam, sim, a liberdade, que é própria de tal regime, para se comportarem muitas vezes da pior maneira, julgando que tudo é permitido! Vão sendo frequentes as situações de desrespeito pelo diálogo social e político, pela aceitação do pluralismo, pela solidariedade e pela justiça, pela convivência pacífica e democrática, e até pela boa educação. Assim a nossa democracia vai empobrecendo, parecendo mais uma imitação de muito mau gosto do que deveria ser. A arrogância, a prepotência, o incumprimento das leis, o desejo de enriquecer depressa mesmo por meios ilícitos, o favoritismo de amigos ou de quem tem a mesma opção política, a desonestidade, etc, imperam cada vez mais. No entanto, os que apregoam, a todo o momento, que são democratas, na prática do dia-a-dia negam constantemente essa qualidade. Já o dissemos e repetimos: à Revolução, que nos trouxe a Liberdade e a Democracia, não se seguiu uma revolução das mentalidades, que, durante os muitos anos da ditadura, estiveram anquilosadas e impedidas de fazer opções. Era preciso que se tivesse feito uma campanha de formação, com competência e dedicação. E bom teria sido que essa formação começasse logo nas escolas e também nos Partidos. Estes pouco ou mesmo alguns nada têm feito de válido nesse sentido. Estamos sempre a tempo de dar à nossa democracia o que ela merece, nunca esquecendo que se conquistou com muitos sacrifícios de toda a ordem. Tal depende essencialmente da vontade firme de cada um.”
Conforme pudemos ler, este oportuno texto alerta para um problema real: a qualidade da democracia está a decair em Portugal.
A sociedade portuguesa está desencantada com a classe política e, isso, reflecte-se no empobrecimento da nossa democracia: todos temos noção que a diminuição da participação nas eleições, o desinteresse dos cidadãos pelos partidos políticos e pelos sindicatos, o aumento da desconfiança em relação aos políticos e às instituições democráticas, não fortalece o regime democrático.
Dado o contexto complicado que se vive em Portugal, é por conseguinte, da maior pertinência e actualidade este lúcido texto do Doutor Luís de Melo Biscaia.
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