terça-feira, 17 de abril de 2007
José da Silva Ribeiro: um Homem que dedicou a vida a cultivar o Povo
Homem de Cultura, notabilizou-se no Teatro. O seu nome confunde-se com a Sociedade de Instrução Tavaredense, fundada tinha ele 10 anos. Começou logo aí a sua ligação com a Arte de Talma. Que não a praticou noutro sítio: “Eu sou apenas Tavarede e mais nada”. Textualmente.
Encenador por excelência, também escreveu, adaptou inúmeras obras e, imagine-se, também pisou o palco. Representou na Filarmónica Figueirense e na Filarmónica Dez de Agosto.
Falamos de José da Silva Ribeiro, um humanista, para quem o centro era o Povo, a educação e a instrução das classes populares.
Foi com pesar que recordou o fecho do jornal que dirigiu, “A Voz da Justiça” (a tipografia foi roubada - palavras dele), numa entrevista que me concedeu em 1984, para o “Secção Cultural” da Associação Naval 1º de Maio. Não desarmou, ludibriou a PIDE e o regime, e no ano seguinte, decorria o ano de 1938, apareceu com outra publicação, desta vez com o nome de “Jornal da Figueira”, de que saíram 24 edições.
Considerava Gil Vicente seu padrinho e usava uma sua frase como ex-libris: “E eu ey nome ninguém e busco a consciência”. Tinha o Shakespeare completo em inglês, em francês e em português, além de admirar o Garrett, de achar o “Camões grande, mas é fora do teatro que o considero espantoso”. Pudera, o escriba também é dessa opinião. Entre outros dramaturgos da sua preferência encontra-se o Lorca, a quem ele se referiu assim: “o nosso grande Espanhol Federico Lorca”.Outra paixão do Mestre, que ele considerava genial, era Molière. Não sem razão, pois teve tempo de o ler convenientemente. Foi nos calabouços do anterior regime que Mestre José Ribeiro recebeu uma belíssima prenda: a obra completa daquele dramaturgo, oferecida por um outro figueirense ilustre, que a comprara num leilão - Maurício Pinto.
Alexandre Campos
6 comentários:
Neste blogue todos podem comentar...
Se possível, argumente e pense. Não se limite a mandar bocas.
O OUTRA MARGEM existe para o servir caro leitor.
No entanto, como há quem aqui venha apenas para tentar criar confusão, os comentários estão sujeitos a moderação, o que não significa estarem sujeitos à concordância do autor deste OUTRA MARGEM.
Obrigado pela sua colaboração.
Acrescentar apenas que o fecho da "Voz da Justiça", ocorre em 1937, precisamente um ano antes de Oliveira Salazar comemorar 10 anos de governo, que entre outras "preciosidades" nos legou, pela mão de Martins Barata "A lição de Salazar", um conjunto de cartazes, para um povo iletrado que precisava de imagens, com o qual se pretendia fazer o contraste entre o antes e o depois.
ResponderEliminarRelembrar que em 1934, durante o Congresso da União Nacional se havia construído o slogan " Quem não é por Salazar é contra Salazar" e em 1937 o atentado contra sua Excelência o senhor Presidente do Concelho, vai provocar uma onde de repressão no país, da qual a Figueira não sairá ilesa, com a "Voz da Justiça" de José de Almeida Ribeiro, assaltada e encerrada.
O jornal, e basta ler os números entre 1930 e 35, para se perceber que o seu proprietário e editor era institivamente contra o rumo cos acontecimentos políticos internos! Dai ao seu encerramento bastou um atentado em Lisboa.
Tudo certo, mas a gota de água que ditou o encerramento do jornal foi o José da Silva Ribeiro se ter negado a publicar dois documentos das "autoridades".
ResponderEliminarE, um pormenor de reportagem. Mas antes, dar os parabéns ao meu amigo Agostinho, pela iniciativa de, em Abril, homenagear homens e mulheres a quem, de uma maneira ou outra, devemos a liberdade que usufruímos.
ResponderEliminarE vamos ao pormenor. O Agostinho pediu-me colaboração, para escrever sobre alguma dessa gente. Coube-me João Vilela e José da Silva Ribeiro. O pormenor, mesmo, é que se encontraram os dois na prisa, depois das eleições de 1958, as que Humberto Delgado...
Tive o raro privilégio de ser encenado pelo Mestre José Ribeiro num auto de Natal em que entrei no Jardim Escola João de Deus no início dos anos 60. Eu fazia de rei mago...e ainda tenho essa fotografia.
ResponderEliminarNas vidas de todos nós há momentos inesquecíveis..
ResponderEliminarEsta série a lembrar pessoas com quem me cruzei, fez-me recordar o episódio do meu único encontro com José da Silva Ribeiro.
Corria o ano de 1975 e eu, então, um jovem, era um dos componentes do GAU (Grupo de Acção Unida), um grupo de jovens da Cova-Gala ligado à Igreja católica.
Tínhamos várias actividades, entre elas o Teatro.
Por essa altura, encenada pelo Senhor Ferreira, estávamos em ensaios para levar à cena “As Duas Causas”, do Ramada Curto. Tínhamos imensas dificuldades ... estávamos com dificuldades em arranjar o guarda roupa. Foi então que resolvemos ir falar com o Mestre José Ribeiro, ao SIT, a Tavarede. E, na delegação do GAU, lá fui.. Fomos recebidos com toda a deferência. Nunca mais esqueci aquela noite única e especial.
Para além do guarda roupa, que facilmente nos foi cedido a título de empréstimo, trouxe uma injecção de entusiasmo, que me tem ajudado a encarar a vida e as suas vicissitudes. Obtive, também, de forma completamente espontânea e informal uma lição de Teatro, gosto esse que, se é verdade, já existia, me foi refinado naquela noite pelos ensinamentos e incentivo do Mestre, detentor de uma sensibilidade e de um entusiasmo, a que juntava o prazer de transmitir o gosto pela sua paixão de sempre, sem nos dar a entender que nos estava a dar uma lição.
Aquela lição, naquela noite única e irrepetível na minha vida, ficou para sempre gravada na memória de um jovem incipiente, mas aberto ao conhecimento. A minha gratidão para com o Mestre José da Silva ribeiro não é possível de traduzir em palavras, por mais autênticas, sentidas e genuínas que elas sejam.
José Ribeiro, na única vez em com ele falei, marcou-me profundamente. Vi logo que estava perante um Homem de grande envergadura cultural, cívica e política, que se preocupava com a transmissão do saber e da cultura ao povo.
Foi, aliás, isso mesmo, a sua preocupação com a instrução do povo, que o fez ser uma vítima, mais uma, do ditador Salazar.
Salazar, essa estranha e sinistra personagem, que ainda recentemente um programa de televisão, não só nos fez revê–lo, como foi também uma montra perfeita para mostrar a maneira errada como o ditador de Santa Comba é apresentado nos dias de hoje.
Por alguns comentários que têm chegado a este blog. Portugal não se tornou um País livre em 25 de abril de 1974.
Falar de respeito, é uma coisa, mas o que existia nesses tempos da ditadura não era respeito, era medo. Medo da prisão, medo da tortura, medo do vizinho, medo da PIDE.
Essa mesma PIDE que prendeu José da Silva ribeiro, um Homem que gostava apenas que o seu Povo fosse Livre, isto é, tivesse cultura e instrução.
Há momentos que valem uma vida..
O José Ribeiro, o Maurício Pinto, o Rafael Sampaio e o Adelino Mesquita eram todos republicanos e membros activos da Maçonaria.
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