terça-feira, 10 de abril de 2007

Joaquim Namorado, Poeta de Incomodidade



“Metam O burro na gaiola
de doiradas grades
e tratem-no a alpista
se quiserem
- é só um despropósito
Mas esperar dele o trinar
Do canário melodioso
É simplesmente tolo.”


Joaquim Namorado viveu entre 1914 e 1986. Nasceu em Alter do Chão, Alentejo, em 30 de Junho.
Licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra, dedicando-se ao ensino. Exerceu durante dezenas de anos o professorado no ensino particular, já que o ensino oficial, durante o fascismo, lhe esteve vedado.
Depois do 25 de Abril, ingressou no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Notabilizou-se como poeta neo-realista, tendo colaborado nas revistas Seara Nova, Sol Nascente, Vértice, etc. Obras poéticas: Aviso à Navegação (1941), Incomodidade (1945), A Poesia Necessária (1966). Ensaio: Uma Poética da Culutra (1994).)
Dizem que foi o Joaquim Namorado quem, para iludir a PIDE e a Censura, camuflou de “neo-realismo” o tão falado “realismo socialista” apregoado pelo Jdanov...
Entre muitas outras actividades relevantes , foi redactor e director da Revista de cultura e arte Vértice, onde ficou célebre o episódio da publicação de pensamentos do Karl Marx, mas assinados com o pseudónimo Carlos Marques. Um dia, apareceu na redacção um agente da PIDE a intimidar: “ó Senhor Doutor Joaquim Namorado, avise o Carlos Marques para ter cuidadinho, que nós já estamos de olho nele”...

No concelho da Figueira – considerava-se um figueirense de coração e de acção – chegou a ser membro da Assembleia Municipal, eleito pela APU.
Teve uma modesta residência na vertente sul da Serra da Boa Viagem. Essa casa, aliás, serviu de local para reuniões preparatórias da fundação do jornal Barca Nova.
Muito mais poderia ser dito para recordar Joaquim Namorado, um Cidadão que teve uma vida integra, de sacrifício e de luta, sempre dedicada á total defesa dos interesses do Povo.
Nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do jornal Barca Nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem, que constituiu um acontecimento nacional de relevante envergadura, onde participaram vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa.
Na sequência dessa homenagem, a Câmara Municipal da Figueira, durante anos, teve um prémio literário, que alcançou grande prestígio a nível nacional.
Santana Lopes, quando passou pela Figueira, como Presidente de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”.

6 comentários:

  1. se eu soubesse digitalizar fotografias (...) postava uma em que ele está contigo, comigo e com o Xaninho á porta de um armazém de peixe dos Freitas. Estramos os três de barbas...

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  2. Isso resolve-se... Facilmente.
    Aparece cá pela terrinha!..
    abraço

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  3. ORA ENTÃO NINGUÉM SABIA QUE O SANTANA TINHA ACABADO COM O PRÉMIO...? hUM... BEM ME PARECIA... SERÁ QUE TERÁ TROCADO O PRÉMIO PELO CENTRO DE ARTES?... MAS POR QUE RAIO DE COISAS É QUE O JOAQUIM DEIXOU DE TER PRÉMIO...hUM ? oS CONCORRENTES NOS DIVERSOS ANOS QUEM SÃO? ...hUM! ALGUÉM SABE? POIS É VIVEMOS PARA O DIA A DIA E ESQUECEMOS...NUM É? a VIDA TÁ MÁ A GENTE SABE MAS QUE COISA...É QUE ESCUSAM DE ANDAR PARA AI A DIZER ...VOLTA SANTANA QUE ESTÁS PERDOADO...NUM É?

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  4. Joaquim Namorado, que fez o favor de se considerar nosso amigo, tem uma afirmação que traduz bem a perseguição que a Pide e o anterior regime lhe moveram, onde se contabiliza o facto de ter sido proíbido de dar aulas.
    "Fiquei em Coimbra a vender lições como quem vendia tremoços", dizia ele para explicar que teve de viver de explicações.
    Tinha muitas tiradas, uma das quais me ficou na memória, como uma lição de vida: "Na vida temos de estar preparados para tudo, mesmo para comer merda em colheres de chá".

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  5. Acabaram com um prémio literário?
    Àh tigres!!!!! é assim mesmo. Como dizia o Goebbels: !Quando ouço a palavra cultura...

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  6. "Evocação de Joaquim Namorado

    Passaram agora dez anos que, aqui, na Figueira da Foz, recebi pela primeira vez o 'Prémio do Conto Joaquim Namorado', ainda na agradável e agora saudosa presença do Poeta de Incomodidade. E pude então em breve referência ao que nos fizera ser 'companheiros' de jornada, repartida por outros lugares e circunstâncias, evocar como, sem nos conhecermos, sempre tínhamos andado lado a lado. Primeiro, porque não deixara de antologiar alguns dos seus poemas na antologia Poesia Portuguesa do Pós-Guerra (1945-1965), espécie de cancioneiro poético da resistência ao fascismo, que em 1965 eu e Afonso Cautela publicámos na 'Editora Ulisseia' e a Censura salazarista depressa mandara colocar fora de circulação, e segundo, porque muitos eram os amigos comuns que por Lisboa e Porto a cada passo falavam da sua poesia e, sobretudo, da sua acção e intervenção cultural sempre como firme resistente no combate ao regime do Estado Novo.
    De facto, na lembrança da força renovadora que foi trazida à literatura portuguesa dos anos 40 pelo movimento 'neo-realista, o nome de Joaquim Namorado sempre aparece na primeira linha, não por ter sido apenas um dos seus mais acérrimos e coerentes defensores, mas sobretudo pelo exemplo da sua intervenção poética e cultural nos difíceis anos do fascismo salazarista. E assim, relendo na distância dos anos os seus poemas ou alguns dos breves ensaios e críticas sempre em redor de poetas e da poesia, posso declarar que o autor de Poesia Necessária retoma ainda connosco esse mesmo diálogo ou renova, pelo clamor do tempo, os mesmos pressupostos ideológicos e estéticos que justificaram e clarificaram a sua 'poética da cultura'.
    Por isso, na memória dos diferentes poetas divulgados pelo Novo Cancioneiro, sabe-se como não existe, no fio dos anos, uma linha de água que limite ou entrelace essa corrente poética neo-realista, para lá dos valores estéticos e ideológicos que todos pretenderam afirmar. E se, por exemplo, em João José Cochofel se adivinhava em Sol de Agosto essa matriz intimista e pessoana que outros livros posteriores haviam de confirmar, se Carlos de Oliveira não recusava, em Turismo, a força e a sombra tutelar de Camões, Antero ou Gomes Leal, se em Manuel da Fonseca, nas reverberações que nunca enjeitará de António Machado ou de Garcia Lorca, era o Alentejo que claramente se erguia pelos 'campos, campos, campos / abertos num sonho quieto', em Joaquim Namorado, no seu Aviso à Navegação, também era demasiado evidente que desde logo se detectavam nos seus poemas as vozes surdas e distantes de Neruda, Lorca ou Álvaro de Campos.
    Ora, na exaltação desses valores humanos e estéticos, como de facto é patente nos poemas e textos críticos de Joaquim Namorado, ainda em favor desses 'amanhãs' cheios de promessas, os poetas alinhados em torno do Novo Cancioneiro sempre exaltaram, antes e depois de Abril, a força das palavras e dos actos, na deliberada intenção de sempre colocarem o primado do homem sobre o exercício literário ou poético, e antes, como no caso pessoal de Joaquim Namorado, fazer da poesia uma arma ou ser ela esse 'aviso à navegação' do que podia fazer mudar a vida e o mundo pelas veredas do canto e do sonho, mesmo na atenta e violenta vigilância fascista no poder. Ou ainda como uma clara denúncia da própria realidade social e serem os poetas a voz dessa 'incomodidade' expressa e actuante daqueles que não podiam falar ou cantar.
    Por isso, neste momento de evocar, como se impõe, a memória de Joaquim Namorado, no acto de lançamento de mais uma edição 'Prémio Literário do Conto' que o tem como patrono, em boa hora instituído por este Município da Figueira da Foz, digo que o Poeta de Incomodidade continua a nosso lado pela força do seu exemplo literário e, sobretudo, pela forma coerente e empenhada como soube consolidar uma 'poética da cultura' no seu mais profundo sentido.

    Serafim Ferreira

    XIV PRÉMIO DO CONTO JOAQUIM NAMORADO
    Cadernos Municipais
    Edição do Município da Figueira da Foz / 1997."

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