domingo, 16 de julho de 2006

As Citroen da Gulbenkian



Alguma da liberdade que conquistamos ao longo da vida, tem a ver, ou foi adquirida, nos livros que fomos lendo. Com alguma regularidade, refugiu-me em páginas, onde o pensamento ou a realidade descrita, transbordam o meu quotidiano.
E, quão importante pode ser um livro, quando, no fundamental, como tem acontecido comigo nos últimos anos, contamos sobretudo connosco próprios!
Nascido numa casa com muito poucos livros, mas onde o gosto pela leitura era cultivado, a minha dívida perante as carrinhas da Fundação Gulbenkian é enorme.
As carrinhas, que paravam na Gala, no Largo das Alminhas, e na Cova, frente ao clube Mocidade Covense, traziam dois Homens que muito contribuíram para incentivar o gosto pela leitura de gerações de covagalenses.
Os seus nomes: António Dias Lopes Curto, já falecido e Joaquim Oliveira Medina, ao que sei, ainda vivo.
Este serviço, estritamente popular e sem fins lucrativos, era assegurado pela Fundação Gulbenkian em quase todo o Portugal continental, Açores e Madeira. Durou entre 1958 e meados da década de 90 e atingia níveis de leitura bastante elevados, em termos estatísticos de utilizadores atendidos e inscritos, com milhões de livros emprestados todos os anos.
A Gala e a Cova, agora, não ficam longe da Figueira. Há razoáveis transportes públicos e, muita gente, possui transporte particular, o que torna uma brincadeira uma ida à cidade.
Mas, no Portugal dos anos 60 e 70, as coisas eram substancialmente diferentes, e a chegada da Citroen da Fundação Gulbenkian, com as estantes carregadas de livros, era praticamente a nossa única oportunidade de aceder ao conhecimento.
Portugal, vivia, então, num regime autoritarista, fechado sobre si mesmo e castrador, onde a cultura não era propriamente uma prioridade do salazarismo.
Nas pequenas Terras, como a Cova e Gala, quando chegava a carrinha biblioteca da Gulbenkian, porém, abria-se uma janela para o conhecimento! ....
Há 50 anos, faz dia 18, nasceu a Fundação Gulbenkian. Parabéns.
Como seria Portugal, em 2006, se não existisse a Fundação Gulbenkian?
Confesso que não sei.
Sei, isso sim, como foram importantes para a minha geração as carrinhas Citroen da Gulbenkian! ...
Obrigado!

9 comentários:

  1. Pois é. Dizes bem e perguntas melhor.
    Como seria Portugal em 2006 sem as carrinhas da Gulbenkian?
    O que seria Portugal sem as Escolas Industrias e o seu Ensino Técnico por Verdadeiros Professores? E a Tele-Escola? também conta, não?
    Vê agora, meu caro em que está transformado o ensino em Portugal, depois de deitarem abaixo os métodos eficazes e o verdadeiro ensino? Quem é que ainda vai fazendo funcionar este país? Gente com 50 e mais anos, que foi fazendo a sua aprendizagem em Verdadeiras Escolas ( não em depósitos de alunos)e a seguir partiu para o seu trabalho, não era emprego, mas trabalho.
    Verdadeiros casos de sucesso, como esses, foram deitados ao lixo e substituídos por métodos de ensino e de transmissão de conhecimento falsos, falidos, trazidos à luz por tecnocratas de meia tigela. Deu no que deu.
    Quem são os jovens de hoje que verias ali esperando a carrinha? A "minha", chegava sempre às terças-feiras, ao fim da tarde. Engolia-se o bocadito da ceia e ala, toca a ler.Que vício! Agora, meu caro...Os vícios são outros.

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  2. Os meus parabéns aos responsáveis que resolveram fazer esta homenagem às carrinhas Citroen da Gulbenkian. No entanto a malta nova não faz uma pequenissima ideia da importtância que elas tiveram para a nossa formação.
    Em relação ao estado do ensino concordo, em parte, com o comentário anterior: são as pessoas com mais de 40 ou 45 anos que ainda conseguem ensinar alguma coisa dum modo eficaz (eu disse eficaz, não disse eficiente), apesar dos métodos modernamente apelidados de.....variadissimas coisas aplicados pelo então Prof. Cadima, por exemplo, a quem eu muito devo.
    É que nos tempos democráticos pretenden ser tão inovadores (os ministros que os partidos que têm estado no poder lá têm posto)que nunca mais se entendem o ensino, por isso, está como está.

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  3. "AS VINHAS DA IRA" FORAM LIDAS PELA PRIMEIRA VEZ NUMA CARRINHA DA gULBENKIEN E FIQUEI ASSIM PARA O RESTO DA MINHA VIDA...UNS PRECISAM DE LUTAR A VIDA INTEIRA PARA QUE ALGUÉM POSSA UM DIA SORRIR

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  4. "A vaidade quando vaidade,é uma linha, uma simples linha.
    A vaidade quando super vaidade
    é um RISCO, no reflexo.

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  5. " É que nos tempos democráticos pre..."
    talvez fossem melhores outros tempos.... quem sabe??
    Bom, BOm é mantermo-nos afastados dessa gente, sempre se pode astiar a bandeira, que melhor nos prover,
    quem sabe o que a ainda te pode calhar. VIVA A LIBERDADE.

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  6. Para o zezagaia:
    E quantos eram os meninos da Cova-Gala que tiveram possibilidades de frequentar as tais "boas" escolas ?
    E porque é que os filhos das classes privilegiadas iam para os Liceus e os outros para as escolas técnicas?
    E qual era, então, a percentagem de analfabetismo? E quem tinha jornais ou televisão, mesmo que em regime de censura?
    Apesar de muitos erros e algumas desilusões nada apaga o valor da democracia.

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  7. Cleptocracia, ladroagem à solta. Chungaria. Democcracia não é nada disto.

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  8. Mesmo que não concorde com o que dizes, lutarei para que o possas dizer.
    Esta é uma máxima da Aministia Internacional que lembrei ao ler o anterior comentário.

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  9. Ao amonino da cleptocracia.
    O castelo de areia tem toda a razão e eu junto-me a ele.
    Assim, já somos dois
    e depois três...
    quatro ...
    ...

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