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sábado, 27 de junho de 2015

DISTINÇÕES HONORÍFICAS E HOMENAGENS PARA NOVENTA E OITO [98] ENTIDADES, INSTITUIÇÕES E PESSOAS NA FIGUEIRA DA FOZ…

foto de Pedro Agostinho Cruz, que me
 convidou para o acompanhar na entrega,
 que fez no passado dia 9 a este velho e
 incansável lutador
 
pelo progresso
da nossa Figueira, de
 um exemplar
do ALERTA COSTEIRO 14/15
Nos últimos dias, através dos jornais e outros órgãos de informação, tomámos conhecimento de que, comemorando-se em 24.06.2015 o dia anual do Município da Figueira da Foz (Portugal), para além dos habituais festejos e folias de praia, localmente tradicionais — e também uma "Procissão e tradicional Benção do Mar" [sic]... (que, de facto, não tem nada de verdadeiro, pois é uma mentira que foi inventada, para ser "tradicional", por volta do ano de 1998 [!], ao mesmo tempo da preparação da Expo de Lisboa…) —, foi também agora celebrada, nesse mesmo dia 24.06.2015 (numa cerimónia solenizada à maneira local, numa instalação que parece que se chama "Centro de Artes e Espectáculos Pedro Santana Lopes"...), uma atribuição de distinções honoríficas, e homenagens, conferidas a noventa e oito (98) entidades, instituições e pessoas individuais desta cidade (segundo o jornal, tratou-se de "...98 entidades repartidas entre funcionários do Município, entidades e personalidades figueirenses, PMEs", etc.).

O Centro de Estudos do Mar e das Navegações Luís de Albuquerque (CEMAR) — a pequena associação científica privada que, neste ano de 2015 (desde 27 de Janeiro), por acaso, está a celebrar os vinte (20) anos da sua fundação (pois foi criada, por escritura pública assinada no salão nobre da Câmara Municipal da Figueira da Foz, em 27.01.1995, e tendo como primeira sede o Forte de Santa Catarina, na Foz do Mondego) —, congratula-se portanto com o facto de que, ao que parece, nesta cidade, são consideradas como existentes e como homenageáveis (e em números tão significativos) tantas entidades, instituições e pessoas que tão publicamente se prestigiam localmente como merecedoras de tais distinções e homenagens municipais. Mas não pode, nem deve, deixar de lamentar que não tenha sido tida em conta a sugestão, que atempada e discretamente havíamos formulado (perante quem havíamos julgado que dirigia e representava a cidade), de que fosse homenageado, em vida, neste ano de 2015, um homem como o nosso Exº. Amigo (e Associado Honorário do CEMAR) Senhor Manuel Luís Pata, o homem a quem a Figueira da Foz deve um capítulo tão importante da sua História Marítima como é a publicação dos três volumes sobre a Pesca do Bacalhau pelos Navios Figueirenses (uma actividade que, no passado, foi tão central, tão importante e tão emblemática para a economia, a sociedade e a identidade local figueirense); e a quem a Figueira da Foz deve o esforço para a organização do movimento cívico que, ingloriamente, tentou salvar da destruição o último navio bacalhoeiro figueirense (o "José Cação", antigo "Sotto Mayor", que acabou por ser entregue para a sucata); e a quem a Figueira da Foz deve (em parceria com o seu conterrâneo Capitão João Pereira Mano) o esclarecimento do equívoco e do erro científico (que, nas últimas décadas do século XX, estava cada vez mais disseminado, avolumado, e generalizado… por estar a ser doutoralmente repetido a partir dos "milieus" da "comunidade científica"…) de se andar a chamar "Xávega" [sic] e "Barco da Xávega" [sic] à "Arte" e ao "Barco da Arte" ("Barco do Mar") da Beira Litoral; etc..

Enfim, o Senhor Manuel Luís Pata, neto, bisneto e trineto de pescadores, a quem a Figueira da Foz deve tudo isso, e muito mais do que isso, pela sua voluntariosa e inglória tentativa de defesa do Património Local, ao longo de muitas décadas.
A quem a Figueira da Foz deve e, infelizmente, vai continuar a dever.

De facto, o nosso Exº. Amigo Senhor Manuel Luís Pata, um homem corajoso, e de opiniões desassombradas — e que, por isso, na Figueira da Foz, é alguém que sempre muito admirámos, e continuamos a admirar —, é o homem que em 1997, 2000, 2002, 2003, havia coligido, publicado, e re-publicado (com a nossa colaboração, do CEMAR, que nos orgulhamos de então ter prestado) os livros, que vão ficar para sempre, sobre a Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau. E é o homem que, em 1998-1999, tentou em vão salvar da destruição o último navio figueirense (e com uma denúncia cívica que, em 07.09.1998, chegou a ter que ser feita em conferência de imprensa realizada na rua, na via pública, à porta do Museu e Auditório Municipal…! [em mesas, e cadeiras, fornecidas, à última hora, pelo Centro de Estudos do Mar...], devido à proibição de utilização desse Auditório Municipal...). E é o homem que, além disso — para além dessa sua defesa do Património Cultural e Histórico —, teve sempre também a coragem de se manifestar em defesa do Património Natural e Ambiental… apontando a catástrofe da acumulação das areias represadas pelo molhe norte do porto comercial da Figueira da Foz (as areias que, ao longo das últimas décadas, cada vez mais, afastaram a cidade do mar, destruíram o turismo urbano, e fizeram falta, dramaticamente, nas outras praias, escavadas e ameaçadas, do sul da Foz do Mondego).

E é o homem que, já antes disso, em 17.10.1997, se havia prontificado a testemunhar, corajosamente, a destruição dos seis (6) exemplares antigos de arquitectura naval — barcos tradicionais, seleccionados, obtidos, e estudados, para fins museológicos, pelo próprio Arq. Octávio Lixa Filgueiras (a maior autoridade científica, em Portugal, sobre arquitectura naval tradicional em madeira…) —… os seis (6) exemplares únicos e insubstituíveis (incluindo um "Meio Batel-do-Sal", verdadeiro… e um "Barco-da-Arte", grande, da Leirosa…) que foram destruídos no pátio interior do Museu Municipal da Figueira da Foz.

Não somente pela publicação dos seus três volumes, mas também por todas estas outras razões, acima citadas — pela denúncia da destruição do património de Arquitectura Naval local, e pela denúncia da destruição do património ambiental marítimo (aquilo que, nas suas próprias palavras, veio a ser, em frente à Figueira da Foz, "a Praia da Calamidade"… —, Manuel Luís Pata, descendente de uma das primeiras (se não a primeira) família de patriarcas pescadores ilhavenses que no século XVIII criaram as povoações a sul da Foz do Mondego (Cova, Gala, etc.), é credor de um reconhecimento, na sua cidade, que ainda não lhe foi prestado.

Pela nossa parte — pela parte do Centro de Estudos do Mar - CEMAR (em que, desde há muitos anos, já nos orgulhávamos de o ter como associado) —, fizemos o que nos competia: neste mesmo ano de 2015, em 29.03.2015 (por ocasião do vigésimo [20º] aniversário do próprio Centro de Estudos do Mar, que, neste mesmo ano de 2015, estamos a celebrar), atribuímos ao Senhor Manuel Luís Pata o título de "Associado Honorário" do CEMAR, pelo seu Mérito Cultural e Histórico (mérito, acrescido, de alguém que é um autodidacta).

Não é demais repetir que, para além dessas matérias culturais, também nas outras matérias, as do Património Natural e Ambiental (dinâmica sedimentar das areias, porto comercial errado, erosão costeira), foi Manuel Luís Pata quem chamou as coisas pelos seus nomes — chamou bois aos bois... —, pronunciando-se sobre o maior e o mais grave de todos os problemas da Figueira da Foz, o problema que levou à decadência e ao desaparecimento, no todo nacional, desta região e desta Cidade de Mar.

O problema que, ainda hoje (e, agora, mais do que nunca), continua a ser decisivo, momentoso, e grave, para o Presente e o Futuro da Figueira da Foz e da sua praia… Mas perante o qual, em vez de se procurarem e se encontrarem quaisquer soluções verdadeiras e efectivas, só se têm aumentado, acrescentado, e avolumado, os maiores erros vindos do Passado… Assim se agudizando as contradições, eternizando os impasses, e se originando as situações insustentáveis, absolutamente previsíveis, e de extraordinária gravidade (que nenhuma hipocrisia pseudo-"ambientalista" vai poder disfarçar), que cada vez mais se aproximam, nos desenlaces do futuro próximo dessa "Praia da Calamidade" que é, infelizmente, a da Figueira da Foz.

Em suma, para além da dramática gravidade da catástrofe cultural que é o estado de destruição, abandono, e desprezo, do Património Cultural e Histórico Marítimo da Figueira da Foz (uma área em que este homem, só, absolutamente autodidacta, e descendente de Pescadores, fez o que pôde, e fez muito, somente com os seus próprios meios, enfrentando todas as contrariedades que lhe foram movidas nos círculos que eram supostos defender e preservar esse Património Cultural), também acerca da calamidade ambiental irresolúvel em que a Figueira da Foz desde há décadas se encontra sepultada (com toda a gente a fingir que não vê, quando a areia, tanta, está à frente dos olhos…) foi Manuel Luís Pata quem tomou sempre posição pública, voluntariosamente, corajosamente, à sua maneira.
Foi ele quem disse o essencial: "a Figueira da Foz virou costas ao Mar…!".

É essa coragem que distingue a verdadeira intervenção e serviço de utilidade pública (e da parte de quem nem sequer recebe, para fazer tal intervenção cultural ou ambiental, quaisquer remunerações, reformas, etc., pagas com dinheiro público…!). É a coragem de quem tenta voluntariosamente ser útil à sua terra, metendo ombros a tarefas e a obras que são trabalhosas e meritórias (em vez de viver simplesmente em agrados e ambições de carreirismo pessoal, em intrigas políticas fáceis, nos bastidores, acotovelando à esquerda e à direita, à sombra do poder do momento). É a coragem de quem é capaz de se pronunciar, não menos voluntariosamente, sobre tudo o que é verdadeiramente importante, não receando, para isso, tocar nas feridas dos assuntos verdadeiramente graves e polémicos (em vez de mostrar a cara em artigos de jornal para escrever sobre insignificâncias pessoais e diletantismos, "culturais", pseudo-"progressistas").
É a coragem — típica de Pescador…? (mesmo quando um pouco brusca…?) — de quem é capaz de tentar mesmo fazer alguma coisa, a sério (mesmo que não consiga…)… e, para isso, é capaz de tentar enfrentar, de frente, qualquer vaga, seja de que tipo for. Em vez de viver no (e do) manhoso tacticismo, no (e do) elogio mútuo, no (e do) tráfico de influências, nos bastidores do poder que anseia e rodeia, e ao qual espera chegar rodeando.
Enquanto todos os verdadeiros problemas, os do Presente e do Futuro, culturais ou ambientais, ficam por resolver (e, por isso, se agravam)… e todos os verdadeiros patrimónios, os do Passado, culturais ou ambientais, se vão perdendo com o tempo ("como neve diante do sol")... Enquanto as nuvens negras das catástrofes, quer culturais e sociais, quer ambientais e ecológicas, se avolumam, em dias de sol, no horizonte próximo.

A Cultura e a Natureza estão, talvez, estranha e paradoxalmente ligadas de uma forma muito íntima, de maneira muito simbólica: quem sabe se, um dia, na luxuosa pobreza extrema, e na merecida desgraça última, quando se enfrentar as vagas assassinas de um tsunami que venha a devastar uma área de ocupação humana ao nível do mar — mas… será possível que haja alguém que, em pleno século XXI, esteja a querer legitimar ("ecologicamente"…!!!), e a, assim, adensar e avolumar (!) uma ocupação humana (dita "turística", e "cultural"… e, até, "ambiental"…! [e, na verdade, pré-imobiliária…?!]) ao nível do mar…?! —, irá ser lembrada, e recordada, com saudade, a geometria fina e a silhueta esguia, cortante, dos antigos "Barcos-da-Arte" ("Barcos-do-Mar"), em "meia-lua"… Que, nesse dia, já não existirão… nem existirá ninguém que os saiba construir...! (embora, provavelmente, vá continuar a existir gente funcionária e política, paga com dinheiro público, que estará pronta para tentar continuar a viver à custa dessas tais matérias, "culturais", e "ambientais", dos barcos antigos, e das praias ecológicas…).

Com o nosso Exº. Amigo Senhor Manuel Luís Pata, aprendemos, há muito tempo, o lema que ele sempre proclama (e que nós sempre repetimos): "O Mar não gosta de cobardes… não gosta de quem lhe vira as costas…".

Centro de Estudos do Mar e das Navegações Luís de Albuquerque (CEMAR)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

O momento não está para politiquices: a erosão costeira a sul da barra do Mondego é um assunto muito sério...

"Tempestade Doris: estes são os efeitos da tempestade que afectou a costa portuguesa nos últimos dias na Cova-Gala, na parte sul da Freguesia de São Pedro. Os acessos à praia foram em parte destruídos. O mar voltou a romper o cordão dunar e a invadir o pinhal. A situação a Sul da Freguesia de S.Pedro continua bastante preocupante."  
- Via Pedro Agostinho CruzPara ver melhor, clicar na imagem.

A praia da Figueira da Foz, o maior areal urbano do país, está a crescer, em média, 40 metros por ano, devido ao prolongamento do molhe norte do rio Mondego, afirmou um investigador do movimento das areias.
José Nunes André, geógrafo e investigador universitário, tem vindo a monitorizar a acumulação de sedimentos através de três perfis transversais, elaborados numa faixa de dois quilómetros de comprimento no areal entre a Figueira da Foz e Buarcos. "Tem dado uma média de 40 metros ao ano de crescimento da praia. E a sul [dos molhes do porto] temos o reverso da medalha, as praias estão a recuar assustadoramente. As praias da Cova Gala e da Leirosa recuaram 15 metros num ano".
De acordo com o investigador, o ritmo de crescimento do areal da Figueira da Foz é, actualmente, superior ao verificado aquando da construção original do molhe norte, nos anos 60 do século passado. A praia, cresceu cerca de 440 metros até à década de 1980 e, a partir daí, nos últimos 30 anos, a acumulação de sedimentos reduziu de intensidade e praticamente estabilizou. No entanto, com a obra de prolongamento do molhe - concluída no verão de 2010 -, o areal continuou a crescer, segundo as medições feitas por José André. 

Claude Chabrol, disse um dia o seguinte: "a estupidez é infinitamente mais fascinante que a inteligência, pois a inteligência tem os seus limites... Mas a estupidez não!" 
O meu Amigo Manuel Luís Pata, farta-se de dizer o seguinte: "há muita gente que fala e escreve sobre o mar, sem nunca ter pisado o convés de um navio".
Em 2003, lembro-me bem da sua indignação por um deputado figueirense - no caso o Dr. Pereira da Costa - haver defendido o que não tinha conhecimentos para defender: "uma obra aberrante, o prolongamento do molhe norte".
Na altura, Manuel Luís Pata escreveu e publicou em jornais, que o Dr. Pereira da Costa prestaria um bom serviço à Figueira se na Assembleia da República tivesse dito apenas: "é urgente que seja feito um estudo de fundo sobre o Porto da Figueira da Foz".
Como se optou por defender o acrescento do molhe norte, passados 14 anos, estamos precisamente como o meu velho Amigo Manuel Luís Pata previu: "as areias depositam-se na enseada de Buarcos, o que reduz a profundidade naquela zona, o que origina que o mar se enrole a partir do Cabo Mondego, tornando mais difícil a navegação na abordagem à nossa barra"
Por outro lado, o aumento do molhe levou, como Manuel Luís Pata também previu, "ao aumento do areal da praia, o que está a levar ao afastamento do mar da vida da Figueira"
Porém, e espero que isso seja tido em conta no disparate que é a projectada obra a levar a cabo pela Câmara Municipal da nossa cidade, "essa área de areia será  sempre propriedade do mar, que este quando assim o entender, virá buscar o que lhe pertence".

E não foi por falta de avisos.
Extracto de uma carta, publicada no dia 26 de Março de 2007, no “Diário de Coimbra”, pág. 8, na secção Fala o Leitor, com o título: “Erosão das Praias”:
"Foram estes “Molhes” que provocaram a erosão das praias a sul da Figueira, e foi o “ Molhe Norte” que originou a sepultura da saudosa “Praia da Claridade”, a mais bela do país. Embora seja de conhecimento geral, quão nefasto foi a construção de tais molhes teimam em querer acrescentar o “Molhe Norte”, como obra milagrosa… Santo Deus! Tanta ingenuidade e tanta teimosia!.. Quem defende tal obra, de certo sofre de oftalmia ou tem interesse no negócio das areias!...
É urgente contratar técnicos credenciados, de preferência Holandeses, para analisarem o precioso projecto elaborado pelo distinto Engenheiro Baldaque da Silva em 1913, do qual consta um Paredão a partir do cabo Mondego em direcção a Sul, a fim de construir um Porto Oceânico junto ao Cabo Mondego e Buarcos. Este Paredão, sim, será a única obra credível, não já para o tal Porto Oceânico mas sim para evitar que as areias vindas do Norte, se depositem na enseada, que depois a sucessiva ondulação arrasta-as e deposita-as na praia da Figueira, barra e rio."


Hoje, nas páginas do jornal AS BEIRAS, o SOS Cabedelo,  deixa alertas sobre as consequências do prolongamento do molhe norte e convida  os partidos a despertaram para a necessidade de se estudar a solução proposta por este movimento cívico que acredita que passa por uma realidade chamada bypass.
“Aquilo que se recomenda é que se elabore um estudo para se escolher a melhor solução”, sublinha Eurico Gonçalves, para quem “a esperança é a última a morrer”.  
“Se não for agora, será mais tarde, mas parte da areia do areal da Figueira da Foz vai ter de sair dali, porque ela não pertence àquele local”
E se das mais recentes diligências não sair uma solução? 
“Se daqui nada resultar, quem sabe o Presidente da República possa ajudar… Mas acreditamos que deverá ser desta que o problema vai ser encarado de frente”, respondeu Eurico Gonçalves.
Entretanto, o areal urbano não para de crescer. Neste momento, o mar encontra-se a cerca de 850 metros da avenida, tendo aumentado para o dobro desde o prolongamento do molhe norte.

Voltando ao senhor Manuel Luís Pata, também sempre uma das vozes discordantes do prolongamento do molhe norte.
Um dia, já distante, em finais de janeiro de 2008,  confessou-me: "ninguém ouve".
Recordo algumas frases de Pinheiro Marques numa entrevista dada à Voz da Figueira em 26 de Novembro de 2008 : “os litorais da Cova-Gala, Costa de Lavos e Leirosa vão sofrer uma erosão costeira muitíssimo maior, com o mar a ameaçar as casas das pessoas e o próprio Hospital Distrital”.
“Devido à orientação obliqua do molhe norte, os barcos pequenos, as embarcações de pesca e ao iates de recreio, vão ter de se expor ao mar de través. Poderá vir a ser uma situação desastrosa para os pescadores e os iatistas e ruinosa para o futuro das pescas e da marina de recreio”.

Não podemos esquecer  11 de abril de 2008, uma sexta-feira.
O prolongamento em 400 metros do molhe norte do porto da Figueira da Foz foi adjudicado nesse dia, um ano depois do lançamento do concurso público que sofreu reclamações dos concorrentes e atrasos na análise das propostas.
A obra, apesar dos vários alertas feitos em devido tempo e, agora, a realidade, continua a ser considerada fundamental pela tutela e comunidade portuária para a melhoria das condições de acessibilidade ao porto da Figueira da Foz.
Cerca de 9 anos depois de concluída a obra, a barra, para os barcos de pesca que a demandam está pior que nunca e a erosão, a sul, está descontrolada. 
Neste momento, pode dizer-se, sem ponta de demagogia, que é alarmante: o mar continua a “engolir” sistema dunar em S. Pedro, Costa de Lavos e Leirosa.

domingo, 9 de abril de 2017

MORREU UM GRANDE LUTADOR. A FIGUEIRA E A COVA E GALA ESTÃO MAIS POBRES.

Manuel Luís Pata, 22 de Novembro de 1924/9 de Abril de 2017
Manuel Luís Pata nasceu na Gala, actual freguesia de S. Pedro, no dia 22 de Novembro de 1924.
Era filho, neto e bisneto de marítimos oriundos de Ílhavo, os primeiros povoadores da Cova, aí pelo ano de 1742.
Fiel às suas raízes, fez-se ao mar, em 1943, como ajudante de motorista no lugre “Ana I”.
Habilitado em 1946 com a carta de motorista, foi trabalhar para a Empresa de Navegação Limpopo, de Lourenço Marques, Moçambique, creio que em 1948.
Entre Moçambique e Portugal continental foi fazendo a sua vida, sempre ligado ao mar, tendo realizado duas campanhas à pesca do bacalhau.
Depois do 25 de Abril de 1974, veio de vez para a sua Terra natal, onde terminou a sua actividade profissional como empresário na área da restauração.
Já na reforma, contra tudo e contra todos, como sempre foi  “a sua imagem de marca”, dedicou-se à escrita e publicou 4 livros. Três sobre “A Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau - Achegas para a sua História - Vol. I, II e III, dados à estampa em 1997, 2000 e 2003. Em 2005, publica a quarta obra : “Memórias de Moçambique”.
Recentemente, no final de agosto do ano passado, publicou  "A CONSTRUÇÃO NAVAL E A INDÚSTRIA BACALHOEIRA NA FOZ DO MONDEGO…".
Apesar dos da idade e  algumas maleitas físicas, não parou praticamente até aos últimos dias de vida. Conforme me confessou um dia, enquanto tomávamos um café numa esplanada da Cova, apesar das dificuldade que existiam para publicar. Como ele próprio dizia: “santos de casa não fazem milagres”.
Como escrevi, um dia , numa crónica para o extinto “linha do oeste”, para mim, Manuel Luís Pata não era, ao contrário do que muitos julgam, até talvez ele próprio, um Homem teimoso. Foi sempre, isso sim, do meu ponto de vista, um dos raros exemplos de verdadeira perseverança que conheço...
A coluna vertebral permite que caminhemos de forma erecta. 
Utilizar a coluna para andarmos levantados, fazendo frente a quem não quer que a usemos para esse fim, é um dever de cidadania. 
Manuel Luís Pata é um desses raros cidadãos: continuou erecto e consequente até ao fim...
As minhas sentidas condolências à Família.

sexta-feira, 15 de março de 2019

A Figueira ficou mais pobre: morreu o Capitão Guerra, um dos figueirenses que tentou salvar da sucata o último de todos os navios bacalhoeiros da Figueira da Foz (o "José Cação", antigo "Sotto Mayor")

Imagem Diário as Beiras

Na altura, comprar o Palácio de Maiorca, o Convento de Seiça e fazer o Caríbe foram  as prioridades...


"O dr. António Cação ofereceu o navio à Câmara Municipal e não foi aceite tão preciosa oferta. Que belo seria podermos ver hoje o navio José Cação instalado numa abertura feita na Morraceira, junto à Ponte dos Arcos. Ílhavo tem um belo museu, o navio Santo André e tem o casco do Santa Maria Manuela, o qual pensam aparelhar para pôr a navegar. E o que tem a Figueira que honre os seus filhos?" - palavras de Manuel Luís Pata.

Estávamos em 1998 na Figueira da Foz.
Santana Lopes tinha tomado posse de presidente da Câmara Municipal há poucos meses.
Com o apoio do Centro de Estudos do Mar - CEMAR, uma comissão de cidadãos (constituída por Manuel Luís Pata - que, então, estava a publicar os seus livros sobre a Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau, e já era associado do CEMAR - e pelos últimos Capitães figueirenses desse navio: o Capitão Marques Guerra e o Capitão Abreu da Silva) desenvolveu esforços para tentar salvar da destruição e da sucata o último de todos os navios bacalhoeiros da Figueira da Foz (o "José Cação", antigo "Sotto Mayor").
Com o declínio das pescas portuguesas, fruto em grande parte da adesão à União Europeia, após o falhanço da tentativa levada a cabo nos anos de 1998 e 1999 de transformar este navio em museu - a Câmara da Figueira presidida então por Santana Lopes não apoiou a iniciativa da sociedade civil - o “José Cação” acabou na sucata por volta de 2002-2003.
Recordo, um pequeno excerto de uma  interessante crónica de Manuel Luís Pata, publicada no jornal O Figueirense, em 2.11.207.
"A pesca do bacalhau foi a indústria que mais contribuiu para o desenvolvimento da Figueira da Foz. Nas campanhas de 1913/14 foi este o porto que mais navios enviou à Terra Nova (15 navios), ou seja, quase metade de toda a frota nacional. Hoje o que resta? Nada de nada!”
Foi assim que as coisas se passaram, mas tudo poderia ter sido diferente. Recordo as palavras do vereador então responsável, Miguel Almeida de seu nome: “esta proposta (a oferta do navio que o dr. António Cação fez em devido tempo à Câmara Municipal da Figueira da Foz, presidida na altura por Santana Lopes) foi o pior que nos podia ter acontecido”.
Como disse na altura Manuel Luís Pata, “nem toda a gente entende que na construção do futuro é necessário guardar a memória”
E, assim,  o “José Cação” foi para a sucata. Como sublinhou Álvaro Abreu da Silva, o seu último Capitão, "foi e levou com ele, nos ferros retorcidos em que se tornou, a memória das águas que sulcou e dos homens que na sua amurada se debruçaram para vislumbrar os oceanos”.

domingo, 7 de janeiro de 2018

Há quem lhe chame progresso!..

FOTO PEDRO CRUZ
Esta foto mostra o que a avidez humana pode fazer...
O meu Amigo Manuel Luís Pata, fartava-se de dizer o seguinte: "há muita gente que fala e escreve sobre o mar, sem nunca ter pisado o convés de um navio".
Em 2003, lembro-me bem da sua indignação por um deputado figueirense - no caso o Dr. Pereira da Costa - haver defendido o que não tinha conhecimentos para defender: "uma obra aberrante, o prolongamento do molhe norte".
Na altura, Manuel Luís Pata escreveu e publicou em jornais, que o Dr. Pereira da Costa prestaria um bom serviço à Figueira se na Assembleia da República tivesse dito apenas: "é urgente que seja feito um estudo de fundo sobre o Porto da Figueira da Foz".
Como se optou por defender o acrescento do molhe norte, passados 15 anos, estamos precisamente como o meu velho Amigo Manuel Luís Pata previu: "as areias depositam-se na enseada de Buarcos, o que reduz a profundidade naquela zona, o que origina que o mar se enrole a partir do Cabo Mondego, tornando mais difícil a navegação na abordagem à nossa barra". 
Por outro lado, o aumento do molhe levou, como Manuel Luís Pata também previu, "ao aumento do areal da praia, o que está a levar ao afastamento do mar da vida da Figueira". Porém, e espero que isso seja tido em conta no disparate que é a projectada obra a levar a cabo pela Câmara Municipal da nossa cidade, "essa área de areia será  sempre propriedade do mar, que este quando assim o entender, virá buscar o que lhe pertence".


Como previmos, por isso o escrevemos para alertar quem de direito, já em 11 de dezembro de 2006, o processo de erosão costeira da orla costeira da nossa freguesia, a sul do quinto molhe,  era já então uma prioridade
Continua a ser... Até porque, entretanto, pouco se fez.
Nessa época, tinha este blogue cerca de 6 meses de existência e a erosão da orla costeira da nossa freguesia assumia já – como continua a assumir cada vez mais ... - aspectos preocupantes para o responsável deste espaço. Especialmente, uma zona a que, na altura, ninguém ligava: a duna logo a seguir ao chamado “Quinto Molhe”, a sul da Praia da Cova...
Tal como agora, entendíamos que, por vezes, ao centrar-se a atenção sobre o acessório, perde-se a oportunidade de resolver o essencial...
Durante todos estes anos – o histórico de postagens publicadas prova-o -, a erosão costeira tem sido a maior preocupação do autor deste blogue.

Sofremos - continuamos a ser apelidados de tudo e mais alguma coisa... - ataques de personagens que vão passando pelo poder local aldeão e  figueirense... 
Infelizmente, porém, o que muito lamento, pois adorava ter sido eu a estar completamente enganado e fora da razão, a realidade é a que todos conhecemos: neste momento, a duna a  Sul do 5º. Molhe da praia da Cova está devastada  e o mar está a entrar pelo pinhal dentro...

Muita gente, que deveria ser responsável, por omissão, contribuiu para o estado a que chegámos.
Nós, aqui no Outra Margem, continuaremos a fazer aquilo que é possível: contribuir para sensibilizar a opinião pública da nossa freguesia, do nosso concelho, do nosso País e dos inúmeros covagalenses espalhados pela diáspora, para um problema gravíssimo que, em última análise, pode colocar em causa a sobrevivência dos covagalenses e dos seus bens.

Tudo foi dito, tudo se cumpriu: depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul  da foz do mondego tem avançado, a barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores, a Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade, a Figueira, mais rapidamente do que esperava, perdeu.

A pesca está a definhar, o turismo já faliu - tudo nos está a ser levado...
Espero que, ao menos, perante a realidade possam compreender o porquê das coisas...
O que nos vale é que temos uma política bem definida para a orla costeira...

domingo, 28 de junho de 2015

A Figueira e o mar...

Navio "JOSÉ CAÇÃO"o último bacalhoeiro da  Figueira da Foz, numa foto tirada a 14 de Maio de 2002
"O dr. António Cação ofereceu o navio à Câmara Municipal e não foi aceite tão preciosa oferta. Que belo seria podermos ver hoje o navio José Cação instalado numa abertura feita na Morraceira, junto à Ponte dos Arcos. Ílhavo tem um belo museu, o navio Santo André e tem o casco do Santa Maria Manuela, o qual pensam aparelhar para pôr a navegar. E o que tem a Figueira que honre os seus filhos?" - palavras de Manuel Luís Pata.

Estávamos em 1998 na Figueira da Foz.
Santana Lopes tinha tomado posse de presidente da Câmara Municipal há poucos meses.
Com o apoio do Centro de Estudos do Mar - CEMAR, uma comissão de cidadãos (constituída por Manuel Luís Pata - que, então, estava a publicar os seus livros sobre a Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau, e já era associado do CEMAR - e pelos últimos Capitães figueirenses desse navio: o Capitão Marques Guerra e o Capitão Abreu da Silva) desenvolveu esforços para tentar salvar da destruição e da sucata o último de todos os navios bacalhoeiros da Figueira da Foz (o "José Cação", antigo "Sotto Mayor").

Com o declínio das pescas portuguesas, fruto em grande parte da adesão à União Europeia, após o falhanço da tentativa levada a cabo nos anos de 1998 e 1999 de transformar este navio em museu - a Câmara da Figueira presidida então por Santana Lopes não apoiou a iniciativa da sociedade civil - o “José Cação” acabou na sucata por volta de 2002-2003.
Recordo, um pequeno excerto de uma  interessante crónica de Manuel Luís Pata, publicada no jornal O Figueirense, em 2.11.207, que pode ser lida na íntegra aqui.
"A pesca do bacalhau foi a indústria que mais contribuiu para o desenvolvimento da Figueira da Foz. Nas campanhas de 1913/14 foi este o porto que mais navios enviou à Terra Nova (15 navios), ou seja, quase metade de toda a frota nacional. Hoje o que resta? Nada de nada!” 

Foi assim que as coisas se passaram, mas tudo poderia ter sido diferente. Recordo as palavras do vereador então responsável, Miguel Almeida de seu nome: “esta proposta (a oferta do navio que o dr. António Cação fez em devido tempo à Câmara Municipal da Figueira da Foz, presidida na altura por Santana Lopes) foi o pior que nos podia ter acontecido”.
Como disse na altura Manuel Luís Pata, “nem toda a gente entende que na construção do futuro é necessário guardar a memória”.  
E, assim,  o “José Cação” foi para a sucata. Como sublinhou Álvaro Abreu da Silva, o seu último Capitão, "foi e levou com ele, nos ferros retorcidos em que se tornou, a memória das águas que sulcou e dos homens que na sua amurada se debruçaram para vislumbrar os oceanos”.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Figueira, obviamente uma cidade de mar e rio

A crónica de António Agostinho publicada na Revista Óbvia em Dezembro de 2021

Sou filho, neto e bisneto de pescadores da "faina maior", a pesca do bacalhau. 

A pesca do bacalhau, à linha, com dóris de um só homem, uma heróica e sofrida singularidade portuguesa, foi uma autêntica escravatura. "Maus tratos, má comida, má dormida... Trabalhavam vinte horas, com quatro horas de descanso e isto, durante seis meses. A fragilidade das embarcações ameaçava a vida dos tripulantes".

A  pesca do bacalhau, nas primeiras décadas do século XX, contribuiu decisivamente  para o desenvolvimento da Figueira da Foz. Nas campanhas de 1913/14, foi o nosso porto que mais navios enviou à Terra Nova: 15 , ou seja, quase metade de toda a frota nacional. 

No final do século passado, o poder político pensou colocar um monumento no molhe norte, para homenagear aqueles que, durante décadas, fizeram da pesca do bacalhau um marco na história marítima da Figueira da Foz.

Essa ideia dos políticos, não deixou de constituir outra singularidade, mas esta figueirense.

Cito Manuel Luís Pata:  "o lugar escolhido não era uma homenagem, mas sim falta de bom senso. O acrescento ao molhe norte foi uma obra sem qualquer estudo racional. Considero que o aumento de 400 metros foi uma obra criminosa,  porém, como apregoam que vivemos em democracia, sinto-me com o direito de proibir que o meu nome e dos meus familiares falecidos sejam colocados em tal local! O lugar certo seria no "José Cação", o último bacalhoeiro da Figueira da Foz."

Recorde-se: em 1998, houve uma tentativa de  transformar  este navio em museu. Santana Lopes tinha tomado posse de presidente da Câmara Municipal há poucos meses. O Dr. António Cação chegou a oferecê-lo à Câmara Municipal. Porém, a oferta não foi aceite. Sem o apoio da Câmara, acabou por ser demolido em 2002-2003. Hoje, poderíamos ter o navio "José Cação" transformado em Museu, instalado numa abertura feita na Morraceira, junto à Ponte dos Arcos. 

Recordo as palavras do vereador  Miguel Almeida: “esta proposta (a oferta do navio que o dr. António Cação fez em devido tempo à Câmara Municipal da Figueira da Foz, presidida na altura por Santana Lopes) foi o pior que nos podia ter acontecido”.

Como disse na altura Manuel Luís Pata, “nem toda a gente entende que na construção do futuro é necessário guardar a memória”.  

Ílhavo tem um belo museu, o navio Santo André, e tem o casco do Santa Maria Manuela. E o que tem a Figueira que honre os seus filhos que andaram na "faina maior"?

Quem quiser saber a importância que a "faina maior" teve na Figueira da Foz, até à década de 80 do século passado, tem de recorrer aos livros que Manuel Luís Pata publicou em 1997, 2001 e 2003. Lá estão coligidas notícias, referências escritas e testemunhos orais, textos, comentários e recordações pessoais, sobre a Figueira da Foz e a relevância da Pesca do Bacalhau no desenvolvimento do nosso concelho.

Como escreveu Pinheiro Marques: "se a Figueira da Foz tem reunidos os elementos para a sua História Marítima nos séculos XIX-XX, deve-o à Cova-Gala (São Pedro): deve-o ao Capitão João Pereira Mano e ao Senhor Manuel Luís Pata."

E, já agora, por ser justo, ao Dr. Pinheiro Marques e ao "Centro de Estudos do Mar (CEMAR) que esteve na publicação dos seus livros, desde 1997."

A Figueira tem uma história rica e importante  no panorama marítimo português.  Porém, ao contrário do que acontece, por exemplo, em Ílhavo, pouco existe como testemunho da forte ligação dos figueirenses ao mar e ao rio. 

Na Figueira, é esta a situação no final de  2021, ano em que o Dr. Pedro Santana Lopes foi de novo eleito presidente. No acto de posse disse:  “as pessoas têm de saber que quando quiserem estudar, investigar e tratar de assuntos do mar o melhor sítio em Portugal é a Figueira da Foz”.

Presumo que o Dr. Pedro Santana Lopes não desconheça que o Governo vai investir 87 milhões de euros na economia do mar e à Figueira não vai tocar nada. No passado dia 16 do passado mês de Novembro, Ricardo Serrão Santos, Ministro do Mar, na abertura do Expo Fish Portugal, em Peniche, "afirmou que o Governo vai investir 87 milhões de euros, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), em centros de investigação e de desenvolvimento de produtos para a economia do mar no Algarve, Lisboa, Oeiras, Peniche, Aveiro e  Porto. Nos Açores haverá um hub similar financiado por outro projeto da componente Mar no PRR".

Os figueirenses sabem que, desta vez,  o Dr. Santana Lopes prometeu cumprir três mandatos, o máximo permitido por lei. Porém, para quem quer uma Figueira “na frente, liderante”, o tempo começou a contar. Para “a Figueira  vir ser a capital do mar, liderar na investigação e na ciência, e, para isso, fazer nascer um centro de investigação em ciências do mar”, dada a fortíssima concorrência (por exemplo de Aveiro), vai ser necessário muito trabalho.

A Figueira é uma  terra de mar e rio. Tem cabimento,  pois, a ideia de tornar a Figueira "no melhor sítio para estudar, investigar e tratar de assuntos do mar em Portugal.” Contudo, sem esquecer o que ainda não foi feito: prestar tributo à memória.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Por vontade dos homens, a barra "mais perigosa do país" é a da Figueira

Barra da Figueira da Foz, por vontade dos homens, tornou-se numa armadilha mortal para os pescadores.
Ao contrário do que disse o Dr. Santana Lopes ontem à RTP (ver aqui), há 20 anos nem para todas as pessoas "a fé" era o prolongamento do molhe norte. 
O meu saudoso Amigo Manuel Luís Pata, fartou-se de dizer o seguinte: "há muita gente que fala e escreve sobre o mar, sem nunca ter pisado o convés de um navio".
Em 2003, lembro-me bem da sua indignação por um deputado figueirense - no caso o Dr. Pereira da Costa - haver defendido o que não tinha conhecimentos para defender: "uma obra aberrante, o prolongamento do molhe norte".
Na altura, Manuel Luís Pata escreveu e publicou em jornais, que o Dr. Pereira da Costa prestaria um bom serviço à Figueira se na Assembleia da República tivesse dito apenas: "é urgente que seja feito um estudo de fundo sobre o Porto da Figueira da Foz".
Como se optou por defender o acrescento do molhe norte, passados 18 anos, estamos precisamente como o meu velho Amigo Manuel Luís Pata previu: "as areias depositam-se na enseada de Buarcos, o que reduz a profundidade naquela zona, o que origina que o mar se enrole a partir do Cabo Mondego, tornando mais difícil a navegação na abordagem à nossa barra". 
Por outro lado, o aumento do molhe levou, como Manuel Luís Pata também previu, "ao aumento do areal da praia, o que está a levar ao afastamento do mar da vida da Figueira"
Em devido tempo, foram feitos avisos a que ninguém, com responsabilidades, ligou. Apesar de algumas  vozes discordantes – principalmente de homens ligados e conhecedores do mar e da barra da Figueira – foi concluído o prolongamento do molhe norte.
"A obra do aumento de quatrocentos (400) metros do molhe norte do porto da Figueira da Foz foi exigida, anunciada, e aprovada, em 2006, 2007 e 2008; teve início neste último ano; realizou-se ao longo de 2009; e ficou pronta em 2010 — e, por isso, logo a partir desse ano começou a alterar as condições da deriva sedimentar, e com o tempo acumulou as areias, ao longo dos anos (até começarem mesmo a contornar a cabeça do molhe norte…), e esse acrescido assoreamento das areias levou, concomitantemente, ao consequente alteamento das vagas nessa zona. Um assoreamento que, como era previsível, se avolumou mais e mais, ao longo dos anos. Os resultados não se fizeram esperar."
Tal com este blogue previu há anos (tudo foi dito, tudo se cumpriu: depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul  da foz do mondego tem avançado, a barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores, a Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade.
«O naufrágio que culminou na morte de quatro pessoas no sábado, voltou a recordar as condições de entrada e saída do Porto da Figueira da Foz. Os pescadores alertam não só para o problema grave do assoreamento da barra, mas também para a forma como foi construído o prolongamento do molhe Norte.»
Ontem, na TVI e na RTP passaram duas reportagens sobre esta nossa barra.
Para ver, clicar aqui e aqui.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Temos uma politica local bem definida para a orla costeira ...

REQUALIFICAÇÃO/VALORIZAÇÃO FRENTE DE MAR E PRAIA – FIGUEIRA/BUARCOS
"Foi ontem assinado o contrato de empreitada que vai dar início a esta requalificação. A obra terá um custo de cerca de €2.000.000,00 (dois milhões de euros) em que o Turismo de Portugal financia 75%."

Em tempo.
O meu Amigo Manuel Luís Pata, farta-se de dizer o seguinte: "há muita gente que fala e escreve sobre o mar, sem nunca ter pisado o convés de um navio".
Em 2003, lembro-me bem da sua indignação por um deputado figueirense - no caso o Dr. Pereira da Costa - haver defendido o que não tinha conhecimentos para defender: "uma obra aberrante, o prolongamento do molhe norte".
Na altura, Manuel Luís Pata escreveu e publicou em jornais, que o Dr. Pereira da Costa prestaria um bom serviço à Figueira se na Assembleia da República tivesse dito apenas: "é urgente que seja feito um estudo de fundo sobre o Porto da Figueira da Foz".
Como se optou por defender o acrescento do molhe norte, passados 12 anos, estamos precisamente como o meu velho Amigo Manuel Luís Pata previu: "as areias depositam-se na enseada de Buarcos, o que reduz a profundidade naquela zona, o que origina que o mar se enrole a partir do Cabo Mondego, tornando mais difícil a navegação na abordagem à nossa barra"
Por outro lado, o aumento do molhe levou, como Manuel Luís Pata também previu, "ao aumento do areal da praia, o que está a levar ao afastamento do mar da vida da Figueira". Porém, e espero que isso seja tido em conta no disparate que é a projectada obra a levar a cabo pela Câmara Municipal da nossa cidade, "essa área de areia será  sempre propriedade do mar, que este quando assim o entender, virá buscar o que lhe pertence".

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Da série, Museu do Mar (continuação)...

Em Fevereiro de 2020, tivemos alguns episódios desta série: "que local propõe para a instalação do museu do mar?"
Em Fevereiro de 2022, temos em cena novos  episódios desta mesma série: "a Figueira devia ter um Museu do mar?"
Há aqui qualquer coisa fora de tempo: em 2022 questiona-se se a "a Figueira deve ter um Museu do mar?"
Então porque é que, em 2020, dois anos antes, se queria saber o local onde deveria ser instalado, se ainda há dúvidas se a Figueira deve ter um Museu do mar!..
O que não poupávamos em papel de jornal se a Figueira tivesse mar!..

Lembrando, via Centro de Estudos do Mar e das Navegações Luís de Albuquerque (CEMAR),  esse extraordinário figueirense que foi Manuel Luís Pata.

"Não é demais repetir que, para além das matérias culturais, também nas outras matérias, as do Património Natural e Ambiental (dinâmica sedimentar das areias, porto comercial errado, erosão costeira), foi Manuel Luís Pata quem chamou as coisas pelos seus nomes — chamou bois aos bois... —, pronunciando-se sobre o maior e o mais grave de todos os problemas da Figueira da Foz, o problema que levou à decadência e ao desaparecimento, no todo nacional, desta região e desta Cidade de Mar.

O problema que, ainda hoje (e, agora, mais do que nunca), continua a ser decisivo, momentoso, e grave, para o Presente e o Futuro da Figueira da Foz e da sua praia… Mas perante o qual, em vez de se procurarem e se encontrarem quaisquer soluções verdadeiras e efectivas, só se têm aumentado, acrescentado, e avolumado, os maiores erros vindos do Passado… Assim se agudizando as contradições, eternizando os impasses, e se originando as situações insustentáveis, absolutamente previsíveis, e de extraordinária gravidade (que nenhuma hipocrisia pseudo-"ambientalista" vai poder disfarçar), que cada vez mais se aproximam, nos desenlaces do futuro próximo dessa "Praia da Calamidade" que é, infelizmente, a da Figueira da Foz.

Em suma, para além da dramática gravidade da catástrofe cultural que é o estado de destruição, abandono, e desprezo, do Património Cultural e Histórico Marítimo da Figueira da Foz (uma área em que este homem, só, absolutamente autodidacta, e descendente de Pescadores, fez o que pôde, e fez muito, somente com os seus próprios meios, enfrentando todas as contrariedades que lhe foram movidas nos círculos que eram supostos defender e preservar esse Património Cultural), também acerca da calamidade ambiental irresolúvel em que a Figueira da Foz desde há décadas se encontra sepultada (com toda a gente a fingir que não vê, quando a areia, tanta, está à frente dos olhos…) foi Manuel Luís Pata quem tomou sempre posição pública, voluntariosamente, corajosamente, à sua maneira.
Foi ele quem disse o essencial: "a Figueira da Foz virou costas ao Mar…!".

É essa coragem que distingue a verdadeira intervenção e serviço de utilidade pública (e da parte de quem nem sequer recebe, para fazer tal intervenção cultural ou ambiental, quaisquer remunerações, reformas, etc., pagas com dinheiro público…!). É a coragem de quem tenta voluntariosamente ser útil à sua terra, metendo ombros a tarefas e a obras que são trabalhosas e meritórias (em vez de viver simplesmente em agrados e ambições de carreirismo pessoal, em intrigas políticas fáceis, nos bastidores, acotovelando à esquerda e à direita, à sombra do poder do momento). É a coragem de quem é capaz de se pronunciar, não menos voluntariosamente, sobre tudo o que é verdadeiramente importante, não receando, para isso, tocar nas feridas dos assuntos verdadeiramente graves e polémicos (em vez de mostrar a cara em artigos de jornal para escrever sobre insignificâncias pessoais e diletantismos, "culturais", pseudo-"progressistas").
É a coragem — típica de Pescador…? (mesmo quando um pouco brusca…?) — de quem é capaz de tentar mesmo fazer alguma coisa, a sério (mesmo que não consiga…)… e, para isso, é capaz de tentar enfrentar, de frente, qualquer vaga, seja de que tipo for. Em vez de viver no (e do) manhoso tacticismo, no (e do) elogio mútuo, no (e do) tráfico de influências, nos bastidores do poder que anseia e rodeia, e ao qual espera chegar rodeando.
Enquanto todos os verdadeiros problemas, os do Presente e do Futuro, culturais ou ambientais, ficam por resolver (e, por isso, se agravam)… e todos os verdadeiros patrimónios, os do Passado, culturais ou ambientais, se vão perdendo com o tempo ("como neve diante do sol")... Enquanto as nuvens negras das catástrofes, quer culturais e sociais, quer ambientais e ecológicas, se avolumam, em dias de sol, no horizonte próximo.

A Cultura e a Natureza estão, talvez, estranha e paradoxalmente ligadas de uma forma muito íntima, de maneira muito simbólica: quem sabe se, um dia, na luxuosa pobreza extrema, e na merecida desgraça última, quando se enfrentar as vagas assassinas de um tsunami que venha a devastar uma área de ocupação humana ao nível do mar — mas… será possível que haja alguém que, em pleno século XXI, esteja a querer legitimar ("ecologicamente"…!!!), e a, assim, adensar e avolumar (!) uma ocupação humana (dita "turística", e "cultural"… e, até, "ambiental"…! [e, na verdade, pré-imobiliária…?!]) ao nível do mar…?! —, irá ser lembrada, e recordada, com saudade, a geometria fina e a silhueta esguia, cortante, dos antigos "Barcos-da-Arte" ("Barcos-do-Mar"), em "meia-lua"… Que, nesse dia, já não existirão… nem existirá ninguém que os saiba construir...! (embora, provavelmente, vá continuar a existir gente funcionária e política, paga com dinheiro público, que estará pronta para tentar continuar a viver à custa dessas tais matérias, "culturais", e "ambientais", dos barcos antigos, e das praias ecológicas…).

Com o nosso Exº. Amigo Senhor Manuel Luís Pata, aprendemos, há muito tempo, o lema que ele sempre proclama (e que nós sempre repetimos): "O Mar não gosta de cobardes… não gosta de quem lhe vira as costas…"."

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Manuel Luís Pata, um enorme exemplo de perseverança...

Manud Luís Pata nasceu na Gala, actual freguesia de S. Pedro, no dia 22 de Novembro de 1924.
É filho, neto e bisneto de marítimos oriundos de Ílhavo, os primeiros povoadores da Cova, aí pelo ano de 1742.
Fiel às suas raízes, fez-se ao mar, em 1943, como ajudante de motorista no lugre “Ana I”.
Habilitado em 1946 com a carta de motorista, foi trabalhar para a Empresa de Navegação Limpopo, de Lourenço Marques, Moçambique, creio que em 1948.
Entre Moçambique e Portugal continental foi fazendo a sua vida, sempre ligado ao mar, tendo realizado duas campanhas à pesca do bacalhau.
Depois do 25 de Abril de 1974, veio de vez para a sua Terra natal, onde terminou a sua actividade profissional como empresário na área da restauração.
Já na reforma, contra tudo e contra todos, como é “a sua imagem de marca”, dedicou-se à escrita e publica 4 livros. Três sobre “A Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau - Achegas para a sua História - Vol. I, II e III, dados à estampa em 1997, 2000 e 2003. Em 2005, publica a quarta obra : “Memórias de Moçambique”.
Apesar dos quase 92 anos e algumas maleitas físicas, ainda não parou. Conforme me confessou em julho de 2010,  enquanto tomávamos um café numa esplanada da Cova, tinha pronto outro livro. Este, sobre a construção naval na foz do Mondego.
Já tinha contactado algumas entidades para tentar obter ajuda para a sua publicação, mas não estava a ser fácil. Como ele próprio dizia: “santos de casa não fazem milagres”.
Como escrevi, talvez há década e meia, numa crónica para o extinto “linha do oeste”, para mim, Manuel Luís Pata não é, ao contrário do que muitos julgam, até talvez ele próprio, um Homem teimoso. É sim, do meu ponto de vista um dos raros exemplos de verdadeira perseverança que conheço.
E a prova aí está: no próximo dia 26 do corrente, no Desportivo Clube Marítimo da Gala, vai ser apresentado o novo livro de Manuel Luís Pata.

terça-feira, 11 de março de 2008

O naufrágio do bacalhoeiro "João Costa"

Esta foto de PAULO DÂMASO, que com a devida vénia sacámos daqui, mostra-nos Hipólito Luís, Remígio Gonçalves e António Santos junto à réplica do bacalhoeiro “João Costa”, naufragado há 56 anos.
Estes, são três pescadores ainda vivos que seguiam a bordo do navio que naufragou em 1952.
A tragédia, ocorrida há 56 anos (precisamente no dia 24 de Setembro de 1952, cerca das 20 horas, ontem lembrada na escola EB1 da Cova-Gala, envolveu outros “velhos lobos do mar”, que ainda conheci, e que aqui recordo com saudade. Entre outros, António Paxita, Alberto Curado (Motorista), António Penicheiro, Remígio Lima (Má Cara), Arnaldo Marques, que foi quem deu o alarme de fogo na casa das máquinas), pode ser exaustivamente recordada no livro de Manuel Luís Pata, “A Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau”, volume II, páginas 347 a 351.
A título de curiosidade, sabem como foram tratados os pescadores, depois de salvos e instalados na Casa dos Pescadores em S. Miguel, nos Açores?
António Paxita, no livro de Manuel Luís Pata, deu a resposta:
“deram-nos roupa, cuecas, camisola interior, meias, sandálias e uma boina. O pior foi quando chegámos à Figueira e fomos receber o valor do peixe que tínhamos pescado, descontaram-nos 390 escudos da roupa que nos tinham dado”.
Isto, apesar do Jornal do Pescador ter noticiado que o comandante Tenreiro tinha telegrafado para os Açores, para a Casa dos Pescadores de Ponta Delgada, a dar instruções para dispensarem todos os cuidados necessários aos náufragos do João Costa ...
“Bem, deram-nos alojamento e comida, mas a roupa tivemos que a pagar...”.
“Eram mais as nozes que as voz”,
diz com ironia o velho pescador no livro de Manuel Luís Pata.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

António dos Santos - o Tróia

Um dia destes, ao fazer uma caminhada pelas ruas da minha Aldeia, passei pela Rua António dos Santos - o Tróia - e deparei com a placa no topo norte da rua (para quem não sabe, é a que vai dar mesmo até à entrada do porto de pesca) no estado que a foto mostra.
Confesso que não gostei e, espero, que depois deste reparo a placa que recorda na toponímia cova-galense um lobo do mar, talvez um dos maiores de toda a orla marítima portuguesa, de seu nome António Santos - o Tróia, volte a ter a dignidade e o respeito que o homenageado, em devido tempo, pela Comissão de Toponímia da junta de freguesia de S. Pedro, merece.


Conheci muito bem António dos Santos - o Tróia, a sua esposa - a dª. Elvira - e as suas filhas.
A sua casa ficava a cerca de 200 metros para sul da casa dos meus Pais. A casa em madeira, embora já não pertença à família, ainda lá está: fica na esquina, lado norte, da rua que dá acesso às antigas instalações do Alberto Gaspar.
Por uma questão de precisão histórica, porém, recorro ao livro A Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau, vulme II, de Manuel Luís Pata, que retrata essa figura lendária que se chamou António dos Santos, mais conhecido pelo o Tróia.
Nasceu na freguesia da Sé Nova, em Coimbra, a 15 de Fevereiro de 1912.
Fez 6 campanhas ao bacalhau. Entre as razões que o levaram a ter abandonado a pesca ao bacalhau, não esteve de certeza o medo. Escreve quem o conheceu: "por medo? Não! O Tróia não sabia o que era o medo. Ele tratava o mar por tu, o mar era o seu grande companheiro do dia a dia...
O Tróia deve ter deixado a pesca do bacalhau, não por medo, mas sim por revolta pela desumanidade que imperava naquela vida, que não se enquadrava na sua maneira de ser. Enquanto para alguns capitães o bacalhau representava mais do que a vida dos pescadores, ele, Tróia, vária vezes tinha posto a sua vida em perigo para salvar vidas em naufrágios ocorridos na barra da Figueira da Foz. O Tróia, antes de embarcar para a pesca do bacalhau, já tinha dado provas da sua bravura, quer na sua bateira a remos, quer a nado, cometendo actos de invulgar heroísmo. Ele parecia possuir algo sobrenatural: de noite, acordava e levantava-se da sua cama, quando pressentia que algo de grave se passava nas proximidades da barra da Figueira. E, muitas vezes, o seu pressentimento estava certo. Nessas ocasiões, saltava para dentro da sua bateira, quer em noites de verão, quer em noites invernosas e fazia-se à barra, muitas das vezes antes das sereias dos Bombeiros começarem a roncar a dar o alarme. Quando chegava o socorro já lá andava o Tróia a furar o mar..."

Quem recorda o Tróia, lembra-o como um lobo do mar, possivelmente um dos maiores que existiram na orla marítima portuguesa.
Manuel Luís Pata, ao vivo, assistiu o dois naufrágios em que o Tróia arriscou a sua própria vida para salvar outras vidas.
"O primeiro foi o encalhe da traineira Sagres, nos rochedos do Forte de Santa Catarina. O outro, foi o encalhe do iate de cabotagem Bem Aventurado ao sul dos blocos da barra no Cabedelo." 
Nesta ocorrência, todo o esforço do Tróia foi feito a nado, batendo-se com o mar, a passar cabos do navio para terra. Graças à sua coragem, toda a tripulação se salvou e  alcançou terra. Neste naufrágio, a que assistiu Manuel Luís Pata, o único meio possível de ajudar as vitimas era a nado pois não havia outro meio de chegar ao navio - "só um Tróia teria a força e a coragem para o fazer".

Relatar uma vida cheia como a de António dos Santos - o Tróia não é tarefa fácil. Muito mais haveria a escrever. Porém, esta postagem para além de apenas recordar uma figura com a dimensão humana de poucos, pretende chamar a atenção de quem de direito para a dignidade que merece a preservação da sua memória numa rua da freguesia de S. Pedro.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Da série, Museu do Mar... (2)

 Começar pelo telhado

"Ou porque é preciso fazer uma “prova de vida”, ou para criar um “facto político”, ou porque se julga mais fácil e eventualmente menos impopular tentar justificar o erro com uma distração do que reconhecê-lo, ou ainda porque a opinião pública fica efetivamente convencida de determinada realização, não quando ela o é de facto mas apenas porque foi (sucessivamente) anunciada, nesta Figueira política já deixou de ser surpreendente a pirueta, a inércia e a leviandade, até porque o povo (o que ainda vai votar) parece gostar e estar satisfeito.  Entendo que uma forma séria de abordar a questão da instalação de um Museu do Mar não pode começar pelo local, mas pela resposta assertiva às seguintes perguntas prévias: Há um claro e estratégico consenso no concelho da Figueira sobre o que deve ser, hoje, um Museu? Há um espólio, material e imaterial, que justifique um Museu do Mar “da Figueira”? Há uma vontade política, social, económica e cultural abrangente, que envolva todos os players, relativamente à necessidade de construção de um Museu do Mar? Já foi feito algum estudo sobre o esforço necessário para a concretização deste desiderato e respetivo impacte (económico, fi nanceiro, cultural, social)? A CIM-Região de Coimbra é/fará parte do projeto? O Turismo Centro Portugal já foi contactado? E o Ministério da Cultura, sabe? Algum dos pré-auto-envolvidos na “discussão” (os presidentes das Juntas de Buarcos e São Julião e de São Pedro e o presidente da Câmara), além de terem divulgado “que já têm um local”, realizou alguma reunião (de trabalho, estratégica ou sequer para auscultação) sobre o assunto?
Não tenho dúvida em afirmar que a resposta é um “não” a (quase) todas as perguntas atrás formuladas, pelo que mal vai um concelho no qual a falta de desígnio proporciona a continuação desta tendência para começar a casa pelo telhado, com as consequências que todos estamos a ver."


Via Diário as Beiras 

Nota via OUTRA MARGEM. 
Na altura, comprar o Palácio de Maiorca, o Convento de Seiça e fazer o Caríbe foram  as prioridades...
Estávamos em 1998 na Figueira da Foz.
Santana Lopes tinha tomado posse de presidente da Câmara Municipal há poucos meses.
Com o apoio do Centro de Estudos do Mar - CEMAR, uma comissão de cidadãos (constituída por Manuel Luís Pata - que, então, estava a publicar os seus livros sobre a Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau, e já era associado do CEMAR - e pelos últimos Capitães figueirenses desse navio: o Capitão Marques Guerra e o Capitão Abreu da Silva) desenvolveu esforços para tentar salvar da destruição e da sucata o último de todos os navios bacalhoeiros da Figueira da Foz (o "José Cação", antigo "Sotto Mayor").
Com o declínio das pescas portuguesas, fruto em grande parte da adesão à União Europeia, após o falhanço da tentativa levada a cabo nos anos de 1998 e 1999 de transformar este navio em museu - a Câmara da Figueira presidida então por Santana Lopes não apoiou a iniciativa da sociedade civil - o “José Cação” acabou na sucata por volta de 2002-2003.
Recordo, um pequeno excerto de uma  interessante crónica de Manuel Luís Pata, publicada no jornal O Figueirense, em 2.11.207.
"A pesca do bacalhau foi a indústria que mais contribuiu para o desenvolvimento da Figueira da Foz. Nas campanhas de 1913/14 foi este o porto que mais navios enviou à Terra Nova (15 navios), ou seja, quase metade de toda a frota nacional. Hoje o que resta? Nada de nada!”
Foi assim que as coisas se passaram, mas tudo poderia ter sido diferente. Recordo as palavras do vereador então responsável, Miguel Almeida de seu nome: “esta proposta (a oferta do navio que o dr. António Cação fez em devido tempo à Câmara Municipal da Figueira da Foz, presidida na altura por Santana Lopes) foi o pior que nos podia ter acontecido”.
Como disse na altura Manuel Luís Pata, “nem toda a gente entende que na construção do futuro é necessário guardar a memória”
E, assim,  o “José Cação” foi para a sucata. Como sublinhou Álvaro Abreu da Silva, o seu último Capitão, "foi e levou com ele, nos ferros retorcidos em que se tornou, a memória das águas que sulcou e dos homens que na sua amurada se debruçaram para vislumbrar os oceanos”.