Entretanto, pouco mudou.
Nos meados do século passado, ao que dizem, foi uma cidade cheia de pujança social, económica e cultural. Nos dias que passam, porém, apesar da sua inigualável beleza, parece estar moribunda.
Há quem culpe Aguiar de Carvalho, há quem não desculpe o "traidor" Santana Lopes e a falta de realismo do falecido Duarte Silva, como os principais culpados do estado a que a Figueira chegou.
Há, também, quem aponte o dedo a João Ataíde e a Carlos Monteiro.
Independentemente das culpas que possam caber aos autarcas que têm servido (mal) a cidade e aos governos que a têm prejudicado, a verdade é que os figueirenses também pouco têm feito para evitar o descalabro actual.
No tempo de Sócrates, perdemos a maternidade. É certo que alguns figueirenses se levantaram e protestaram, mas de pouco valeu. A maternidade foi mesmo encerrada.
Isso, foi simbólico.
No final de 2014, a Figueira perdeu o seu jornal mais antigo – o Figueirense – e nada aconteceu para tentar contrariar o destino.
É certo que, ao longo dos anos, outros títulos desapareceram, no essencial, também por desinteresse dos figueirenses. Recorde-se alguns, nos últimos 30 anos: Barca Nova, Mar Alto, Correio da Figueira, Linha do Oeste.
Os figueirenses têm orgulho – presumo eu - na Biblioteca e no Museu municipal, no CAE, no associativismo, no Casino, como exemplos de uma cidade voltada para o lazer e para cultura.
Gostam - também presumo eu - da Naval, do Ginásio, do Sporting Figueirense da SIT, do Caras Direitas, do GRV, da Cruz Vermelha, dos Bombeiros (municipais e voluntários), da Assembleia Figueirense, da Misericórdia - e do papel destas entidades em defesa da promoção da solidariedade e do progresso social, associativo, desportivo e social da cidade e do seu concelho.
Mas isso chega?
Ter orgulho em exibir algumas jóias da coroa, como prova de vitalidade, é próprio de famílias arruinadas que se agarram a elas para demonstrar que ainda estão vivas.
A Figueira está moribunda, agarrada a um bairrismo provinciano completamente ultrapassado.
A Figueira precisa de gente que goste da cidade, que a ame e a queira voltar a colocar no mapa de forma sustentada e com dignidade - não como uma moda.
E a senda e os argumentos são sempre os mesmos, como podemos comprovar na edição de hoje do Diário as Beiras.
Confesso-me inquieto. Temos de estar atentos ao nosso Hospital: não vá alguém querer transformá-lo num centro de saúde com diversas especialidades clínicas e um Bloco Operatório a funcionar algumas horas durante o dia. Um concelho com a saúde doente, seria prejudicial, não só à nossa saúde, como também ao desenvolvimento do concelho!
Citando Miguel Torga. “É uma tristeza verificar que a política se faz na praça pública com demagogia e nos bastidores com maquinações. E mais triste ainda concluir que não pode ser doutra maneira, dada a natureza da condição humana, que nunca soube distinguir o seu egoísmo do bem comum e vende a alma ao diabo pela vara do mando. A ambição do poder não olha a meios, pois todos lhe parecem legítimos, se eficazes.”
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