terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Apontamento sobre o segundo dos Encontros do Mar 2020...

Pequeno excerto, com o essencial da tese de Alfredo Pinheiro Marques, condensado numa só frase (“O Rei Dom João II foi Duque de Coimbra”)... [sic]


"No debate, muito interessante, que se seguiu a esta intervenção de 25.01.2020 de Alfredo Pinheiro Marques, houve ocasião de trocar ideias, acerca da História Local, do património e das heranças marítimas locais e regionais, e do seu peso e significado na História geral de Portugal e dos “Descobrimentos Portugueses”, em diálogo com a assistência, nomeadamente a proveniente de locais como Ílhavo e Aveiro, Tomar, Ovar e Vila Nova de Gaia. Infelizmente, parece que não se terá encontrado na assistência (ou, pelo menos, não se manifestou como tal) uma só pessoa da cidade da Figueira da Foz, em que este Encontro se realizou (e onde vão continuar a realizar-se os próximos), e por isso não houve ocasião de neste debate se aprofundar mais matérias respeitantes à herança marítima da região da Figueira da Foz, e à sua importância nos séculos passados (escandalosamente, até hoje, silenciada, sobretudo na Figueira da Foz), nomeadamente na chamada “Época dos Descobrimentos”.

Alfredo Pinheiro Marques reiterou a sua tese -- a tese que “mudou para sempre a História dos Descobrimentos e a História de Portugal”-- de que existiu aqui, na Beira Litoral, uma “continuidade da Casa de Coimbra, decisiva nas origens dos descobrimentos e da modernidade em Portugal, desde o Infante Dom Pedro assassinado em Alfarrobeira até ao seu neto, e herdeiro (de sangue), e vingador, o “Príncipe Perfeito” Rei Dom João II, o qual foi também Duque de Coimbra (Senhor da Casa e Ducado de Coimbra, tal como o avô assassinado)”. E, para além disso, agora, em 25.01.2020, uma vez mais (e cada vez com mais impaciência perante a inércia, ignorância e imobilismo que se perpetuam ao longo dos anos) o director do CEMAR, Alfredo Pinheiro Marques, apontou a gravidade, verdadeiramente anedótica, da situação em que se encontram, perante a História de Portugal, desde há mais de duas décadas, os responsáveis de grande parte dos círculos decisores, políticos, autárquicos, institucionais e escolares desta região da Beira Litoral (o antigo Ducado de Coimbra), por insistirem em silenciar, ignorar, omitir e esconder o seu próprio contributo regional e local para o momento mais emblemático, decisivo e célebre dessa mesma História de Portugal (!) -- o momento dos celebérrimos “Descobrimentos Portugueses” (!).. --. ao mesmo tempo que continuam a aceitar, acefalamente, e a trombetear, infantilmente, todas as lenga-lengas da versão oficial e salazarista desses tais “Descobrimentos” (o Algarve, e Lisboa, e as “escolas de Sagres” em Sagres e em Lagos, e as “Grandezas Manuelinas” em Lisboa, e o persistente confusionismo, salazarista e colonialista, de identificar, como se fossem a mesma coisa, duas coisas tão distintas como são os Descobrimentos Geográficos, iniciais [século XV], e a Expansão Colonial, posterior [séculos XVI, etc.]).

Silenciar, ignorar, omitir e esconder (!) a sua própria História local e a sua própria identidade, nestas regiões de Coimbra, de Montemor-o-Velho e da Foz do Mondego. É, de facto, simplesmente, ridículo.
Não se imagina que algo assim possa acontecer em qualquer outra região; onde, naturalmente, sempre existe uma identidade local e uma auto-estima, um bairrismo e um amor à sua própria terra, que levam a que não seja concebível que alguém queira, e consiga, localmente, censurar e silenciar as suas próprias glórias e os seus próprios contributos locais para as maiores glórias nacionais (as glórias como tal, nacionalmente, consideradas).
Mas, de facto, aqui, nestes arredores de Coimbra (entre Coimbra e o mar), isso acontece desde há muito, e continua.
E a razão desse facto é, na verdade, muito fácil de explicar, e Alfredo Pinheiro Marques desde há anos tem deixado explicado o seu porquê (e, agora, em 25.01.2020, nestes Encontros do Mar 20202, uma vez mais, explicou-o), quando explanou as circunstâncias em que em 1537 a Universidade de Lisboa (a fundada nessa cidade em 1290, e que, desde então, por lá e por outros locais ia sobrevivendo mediocremente) foi instalada em Coimbra pelo segundo Rei da Dinastia de Beja-Viseu, Dom João III, ao mesmo tempo da criação, que fez, da Inquisição portuguesa, precisamente para asfixiar Coimbra (e asfixiar a sua região inteira, do Ducado de Coimbra, Montemor e Buarcos, até ao mar), e para impedir a recomposição da unidade política que antes havia sido o antigo Ducado de Coimbra, do Infante Dom Pedro, e do seu neto Dom João II, e do então ainda vivo Senhor Dom Jorge de Lancastre (filho do “Príncipe Perfeito” Dom João II, e bisneto de Dom Pedro).
E esse objectivo de destruição e de asfixia foi conseguido, ao longo do tempo, por essa Universidade vinda de Lisboa que desde então passou a auto-designar-se como “Universidade de Coimbra” (ao mesmo tempo que foi feita desaparecer a verdadeira universidade criada em Coimbra, a Universidade de Coimbra criada em 1443 pelo Infante Dom Pedro). E, para além dessa destruição económica e social, é óbvio que essa universidade vinda de Lisboa para Coimbra juntamente com a Inquisição, e que desde então passou a chamar-se “Universidade de Coimbra”, no aspecto da destruição cultural e identitária, passou a ser também para futuro a principal agente do silenciamento e da “maldição da memória” da Casa e Ducado de Coimbra e dos seus contributos antigos para a História de Portugal e dos “Descobrimentos Portugueses”.

Compreende-se portanto que, nos arredores, onde chega a sombra, verdadeiramente feudal, das torres dessa Universidade trazida de Lisboa e que passou a intitular-se “de Coimbra” (nos seus arredores rústicos), possa existir uma subserviência de tal maneira acéfala que leve a que os respectivos círculos dirigentes desses arredores, e os respectivos habitantes (os indígenas que, pelos académicos, são chamados “futricas”, etc.), se abstenham de rezar outra qualquer cartilha e de recitar outra qualquer ”sebenta” que não aquelas que sempre lhes foram rezadas, e lidas, pelos seus lentes, “doutores”, conimbricences. E é óbvio que essa cartilha e essa “sebenta” incluem, e sempre incluíram, sobretudo, o silenciamento e a maldição da memória do Infante Dom Pedro, da sua Casa e Ducado de Coimbra, e da sua continuidade no “Príncipe Perfeito” Dom João II.

Mas, desde a sua criação (em 1995), o Centro de Estudos do Mar (CEMAR), estudando e defendendo o Património Cultural e Histórico Local (como compete a qualquer entidade cultural isenta e honesta nestas regiões), dedicou-se especialmente à figura histórica do Duque de Coimbra, Senhor de Montemor-o-Velho, de Aveiro e Ílhavo, de Buarcos (Foz do Mondego), de Mira, de Penela, etc.., o autor da “Virtuosa Benfeitoria” que foi o Regente da Coroa de Portugal na “Época dos Descobrimentos". A figura fascinante e decisiva da História de Portugal cujo resgate da “maldição da memória” continua por fazer, nessa mesma História, com o devido alcance e com a devida dimensão, que não podem ser menos do que monumentais, pois não pode haver dúvida de que, nacional e localmente, foi a mais simbólica, exemplar e injustiçada figura histórica portuguesa (e, nestas regiões de Coimbra, Montemor, Foz do Mondego, Mira, etc., foi, sem dúvida, a mais importante figura histórica de dimensão nacional de todos os tempos).

Alfredo Pinheiro Marques, e o CEMAR por si fundado (e, desde então, dirigido), sabem-no, desde o princípio, em 1995 (e uma Jornalista da dimensão de Leonete Botelho, embora então ainda muito jovem, compreendeu-o, também, logo desde o primeiro momento [vide jornal “Público” de 29 de Janeiro de 1995]). Sabem-no, e continuam a afirmá-lo, sonora e inequivocamente, agora, vinte e cinco anos depois, em 2020."

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