segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Waldemar Bastos uma voz do livre pensamento morreu hoje

O músico Waldemar Bastos, morreu esta segunda-feira de madrugada em Lisboa, vtima de cancro. 
As canções integraram a luta de resistência dos angolanos. Uma das mais emblemáticas é, sem dúvida, Velha Chica, composta por Valdemar Bastos, antes do 25 de Abril.  
Sou da idade de Waldemar Bastos. A Primeira Festa do “Avante!” realizou-se a 24, 25 e 26 de Setembro de 1976, na FIL, em Lisboa.
Em 1976, tínhamos ambos 22 anos. No dia 25 de Setembro de 1976, um sábado, cerca das 16 hora, ao deambular ao acaso pela Festa, ouço uma voz que desconhecia totalmente: era Waldemar Bastos, num dos palcos secundários da Festa. Aquele que viria a ser um dos mais consagrados artistas da lusofonia.
Apelidado de "Lenda Africana", Waldemar cantou uma Angola sem fronteiras. 
A música corria-lhe no sangue desde criança. Construiu pontes a partir de África, navegando pelo afropop, pelo fado e por influências brasileiras, numa sonoridade que abraçou toda a lusofonia. 
Tive a oportunidade de ouvi-lo, pela primeira vez, há 44 anos, naquele que passou a ser o maior evento cultural, artístico, político, de convívio e de confraternização, do país.
Tínhamos ambos 22 anos. 44 anos, depois Waldemar Bastos, uma voz activa contra as disparidades em Angola tendo mesmo escrito “Pra quê tanta dor/pra quê tanto ódio/… /Angola é tão grande/tão rica e tão linda/que dá para todos nós” na canção “Sofrimento”, de que dizem que tinha um feitio difícil, pois era directo e frontal, partiu deste mundo. 
Pugnou sempre por uma Angola na qual todos tivessem possibilidade de viver e de usufruir do país, o que não acontece. 
Foi sempre uma voz dissonante perante a má distribuição da riqueza. Daí não ser querido pelo poder. Mas era acarinhado pelo povo. 
Voltou várias vezes a Angola, sobretudo como artista. Sempre que tentava fazer algo, tudo lhe era impossibilitado. As vozes do livre pensamento são sempre incómodas para o poder. Sempre cantou e lutou pela liberdade. Considerava que também é obrigação do artista ser consciente. É preciso abrir as portas da liberdade, não só através da música como também com atitudes e comportamentos. 
Por norma, o poder não gosta dos artistas que são uma referência para o povo. Com a morte de Waldemar Bastos desapareceu alguém que tinha a consciência que a arte e o talento e a música podem dar alento e esperança. Desemprenhou essa misssão com humildade e competência.

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