quinta-feira, 17 de maio de 2018

“O que é um escritor maldito?”

"NÃO É [ESCRITOR] MALDITO QUEM QUER: precisamos não confundir a maldição com a excentricidade, gratuita, inócua, seja ela propositada ou casual. 
A Cidade a esse troça-os, mas acarinha, fazem parte do seu folclore. Não é pela barbicha, o trajo exótico, os costumes curiosos que se chega à maldição. Há entre o MALDITO e o seu meio, motivos mais fortes, vitais, de discordância, a saber: a tal razão, um desfasamento ético logo cívico, estético também (a obra espelho do criador) e isso é que conta. 
O MALDITO pode engravatar-se e vestir do Lourenço & Santos (exemplo, o Pessoa), pode comportar-se socialmente com toda a correcção, nem assim escapa à fama que actos ou obra lhe vão granjeado, vai ficando cercado. Inutilmente procurará UM EXCÊNTRICO E SÓ ISSO lançar-se como MALDITO… a Cidade tolera-o, premeia as suas gracinhas."

Luiz Pacheco, “O que é um escritor maldito?”, in “Literatura Comestível” 

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