"Subitamente, supermercados e médias superfícies “descobriram” a Figueira. Em menos de dois anos foram licenciados mais espaços que nos 15 anos anteriores. A reverência perante os supermercados levou mesmo à criação de rotundas (mal desenhada e em via dupla) para os servir, além de estacionamento dedicado, destruindo um espaço verde na zona do Alto do Forno. Os supermercados são quem mais ordena! E alguns estão às moscas… A câmara alega que aprova os projetos de “supermercados” porque é obrigada pelas “leis da concorrência da União Europeia”.
Não é verdade, a câmara tem meios para impedir o licenciamento dos supermercados, tal como previsto no artigo 24.º do Regime Jurídico da Urbanização e Edifi cação (RJUE) quando, “comprovadamente [o projeto constitui], uma sobrecarga incomportável para as infraestruturas existentes”.
A câmara teve ainda oportunidade através da revisão do Plano Diretor de impedir tanta desordem, mas não o fez. Falhou. Os decisores e técnicos da câmara continuam sem perceber a importância das Estruturas Ecológicas Urbanas num “presente” dominado pelas alterações climáticas. Os supermercados são aprovados sem “a sujeição a discussão pública do licenciamento de operações de loteamento com significativa relevância urbanística” como previsto no artigo 22.º do RJUE. Ou seja, a câmara quis estes projetos. Caso contrário, teria mobilizado instrumentos administrativos e a sociedade civil, evitando tantos supermercados que afastam as pessoas do centro da cidade e do comércio tradicional."
"Invasão dos supermercados", uma crónica de João Vaz, consultor de ambiente, publicada no jornal AS BEIRAS.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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