No contexto do que, habitualmente, se chama democracia, o princípio da representação política é simples.
O voto, é o modo pelo qual o representado constitui o seu representante, alguém que está numa lista (embora já existam algumas excepções...) de uma organização chamada partido político.
Por via do voto, o representante representa o representado. O representado é representado pelo representante.
Até aqui tudo bem. O problema é que na distribuição de mandatos o contingente dos abstencionistas, o conjunto daqueles que por qualquer motivo não endossaram uma procuração política a um representante, não é tido em conta.
A meu ver, está mal.
A abstenção devia ser considerada como qualquer outro concorrente e entrar no cálculo dos quocientes a partir dos quais, segundo a regra d'Hondt, é feito o rateio dos mandatos submetidos a sufrágio.
Acaso tal fosse feito conseguir-se-iam dois objectivos.
Por um lado, evitava-se que os senhores políticos se presumissem representantes de quem não lhes outorgou qualquer representação.
Por outro lado, se não fossem atribuídos os mandatos da abstenção, seria diminuído o número de políticos, o que permitiria depurar a fauna.
Se não pela qualidade, pelo menos pela quantidade.
Já me estou a ver, no dia 1 de outubro próximo: olho para os cartazes e fico a pensar.
Pode o voto ser útil em inúteis fingidos úteis?
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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