António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
quinta-feira, 1 de junho de 2017
O tempo ácido da frustração...
- Falhámos a vida, menino!
- Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. Diz-se: “vou ser assim, porque a beleza está em ser assim”. E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado, como dizia o pobre marquês. Às vezes melhor, mas sempre diferente.
Nota de rodapé.
Falhar a vida, talvez seja tão bom quanto acertá-la.
Não poderei verificá-lo jamais porque só a falhei, mas, e este despojamento que advém de a ter falhado, de a ter falhado a sério, não àquela décalage entre a ideia de vida na juventude e a na maturidade, não: tudo muito bem falhado, à grande e à francesa e no grande como no pequeno, no amor e na profissão, no ser como no ter.
Que alívio.
Pronto, falhei, está falhado.
É tão bom o despojamento de sonhos, de objectivos, de planos.
A vida continua...
Agora que penso nisso, finalmente, vejo.
A culpa é toda minha.
Tenho uma sentimentalidade de sopeira.
E que quero eu dizer com isso?
Quero dizer que sou um parvo...
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