"Durante os mandatos
de Aguiar de
Carvalho, foram
projectadas novas avenidas
que desviariam o trânsito
exterior dirigido às
praias e o fariam fluir sem
perturbar o quotidiano dos
figueirenses e do comércio
do centro da cidade.
A solução era óbvia e
resultou facilmente.
No entanto, na altura
ninguém imaginou que
um dia estas avenidas
também serviriam de
acesso a grandes superfícies
comerciais.
A
ajudar o planeamento que
estava para vir, ocorreram
oportunos incêndios em
terrenos do sopé da Serra,
que mais tarde ou mais
cedo viriam a servir de
base para instalação das
novas grandes superfícies.
Hoje, as avenidas que
originalmente serviam
para desviar o trânsito
exterior do centro da
Figueira passaram a atrair
os próprios Figueirenses,
que efectuam ali as suas
compras, vão ao cinema,
vão comer, etc.
Avenidas
pensadas para um rápido
fluir do trânsito passaram
a ser equipadas de semáforos,
de passadeiras
e de variados obstáculos
urbanos para a reduzir a
velocidade, aproximando
a velocidade média de
circulação nestas artérias
à velocidade de circulação
na zona antiga da cidade.
Nos dias que correm, a
deslocação do centro de
gravidade da cidade está
consumada. Esqueçam
o rio ou a praia, a Figueira
deslocou-se para uma das
suas periferias, atropelando
corredores verdes,
cursos água e zonas de
cheia junto à serra.
Isto é
outra cidade meus caros, e
não é bonita."
Novo centro de gravidade, uma crónica de Rui Curado da Silva, publicada no jornal AS BEIRAS.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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