quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

"Tranquilidade", ou falta dela?..

foto António Agostinho
"Nada tenho quanto à tranquilidade revelada pelo Presidente da Câmara sobre a nomeação do administrador-delegado da Amorim Turismo no Casino da Figueira, acerca do que não devo pronunciar-me, até porque poderia tornar-me suspeito dada a nossa proximidade pessoal e que também já foi profissional. Mas confesso que foi a expressão utilizada que me inspirou e me fez refletir sobre a quase absoluta e estranha tranquilidade, calma, sossego e quietude que percorre a cidade e o concelho. Há já muito que nos vamos habituando à narrativa (vocábulo que Sócrates consagrou no léxico político) dos protagonistas políticos para argumentar num sentido e no seu contrário com a mesma expressão, o mesmo fácies, em controle absoluto pelas emoções. Vem aí a altura de assumir com honestidade as legítimas propostas que os candidatos genuinamente defendem e explicar com humildade o incumprimento de promessas. Sabe-se que estes raramente são os melhores. São os disponíveis."

Daniel Santos, hoje no jornal AS BEIRAS.

Nota de rodapé.
A propósito de tranquilidade, dado que estou bem disposto e tranquilo, aproveito para vos deixar uma história, que esteve recentemente novamente na ordem do dia a propósito da morte de Mário Soares.

A história é sempre contada pelos vencedores. 
Foi assim que aconteceu em Portugal ao longo da sua secular história. Foi assim que aconteceu em Novembro de 1975.
Os “fazedores da verdade” insistiram e persistiram na ideia de que Cunhal queria impor uma ditadura soviética em Portugal a seguir ao 25 de Abril. 
Apesar disso não passar de um famigerado “se”, o facto é que continua a fazer o seu caminho, tal a força dos “média” e o empenho dos "comentadores oficiais do regime"
Pergunto-me, ainda hoje,  se no quadro de guerra-fria, então existente, entre os EUA e a União Soviética de 1975, não terão sido os americanos e os ingleses, os amiguinhos de Mário Soares, que o manipularam (ao Soares) e fizeram sobressair a ideia de que Portugal seria a nova Cuba da Europa, até como forma de mostrarem aos Russos e ao mundo que eles, os capitalistas, estavam a recuperar e a ganhar terreno, tal como aconteceu.

Cá por mim, que vivi os acontecimentos ao vivo e a cores, continuo convencido que Cunhal  sempre quis implementar a democracia parlamentar em Portugal - de esquerda, evidentemente
Registe-se, a bem da verdade, a influência que Cunhal teve no 25 de Novembro ao desaconselhar uma guerra civil em Portugal. 
Cunhal, em Novembro de 1975, respeitou os portugueses, foi tolerante: aceitou com tranquilidade a vontade do povo, apesar de saber que esse mesmo povo já estava contaminado pelo vírus daquilo que ele designava por contra-revolução. 
Cunhal, a meu ver,  é, com todo o mérito, uma grande figura da nossa história. 
Não por ser ditador, que nunca o foi, não por ser um tirano, que nunca o foi, mas sim porque esteve sempre ao lado dos que sempre sofreram - os explorados e oprimidos
Cunhal, tinha convicções -  lutou por elas. Cunhal, tinha um sonho de liberdade - e bateu-se por ele.
Com armas?..
Todos sabemos que não - com paz e tranquilidade
Lutou a vida inteira - e começou muito antes do 25 de Abril de 1974.
Um homem destes merecia outro país? Claro que merecia.
Mas, era Portugal que ele amava e que o fazia sonhar.

Muitos figueirenses mereciam outra Figueira. 
Claro que mereciam.
Mas, é esta que temos - e é esta que temos de continuar a tentar mudar.
Com tranquilidade. E com serenidade - mas, talvez, sem toda a serenidade...

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