Parece-me óbvio o motivo pelo qual, mesmo no verão, na Figueira é sempre carnaval.
É tão simples e linear como isto: na realidade, não avançámos, não atravessámos a linha que nos separa definitivamente da vergonha do que já fizemos.
A liberdade de expressão, por exemplo, está por concretizar.
Quem manda na Figueira julga-se dono de uma moral castradora e acusatória, que leva a condenar publicamente, por vezes, com insulto e ameaça, quem exprime pensamento que não lhe caia no goto.
O direito a dizer o que se pensa, é tolerado, mas muito mal amado.
Incapaz de distinguir o trigo do joio, quem de direito, só olha de raspão e ouve por alto, quem não é yes-man.
A Figueira está a reduzir-se ao carnaval.
E é à sombra da ignorância e do medo que o verdadeiro perigo fermenta...
E de um modo tão silencioso e ordeiro que nem se dá por ele.
Nota de rodapé.
* O título desta postagem é da autoria de Francisco Neves.
Foi sacado a um comentário feito a um texto que foi publicado por Bruno Gomes, no Figueira na Hora.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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