quinta-feira, 2 de junho de 2016

O legado do Zé

Já o conheço há muitos anos, embora sem muita convivência.
Lembro-me dele, em novo, a subir os velhos degraus da antiga sede Socialista da Rua da República, mesmo em frente ao café Nau, do outro lado da rua.
Anos depois, a seguir a uma passagem, breve, pelo PSN, lembro-me dele a subir os velhos degraus da sede do PPD/PSD, na Rua da Liberdade.
Embora para o Zé "os partidos do poder sejam todos iguais", tanto no PS, como no PPD/PSD, deixou marca registada e discípulos.
Neste momento, o Zé está a terminar uma carreira pública, não como um político de trazer por casa, mas  em casa: como presidente da sua Freguesia.

Não sei se o quase generalizado silêncio da elite figueirense, relativamente ao assunto político desta semana na Figueira, é daqueles em que o que não se diz tem tanta importância como o que se poderia dizer. 
Não sei, também, se esse silêncio tanto pode significar uma viagem reflexiva em busca da linha de sombra onde as dúvidas habitam, ou se, pelas mesmas razões, é um périplo à procura do esquecimento, como se tratasse de um sonho, que há-de ser limpo pela passagem do tempo. 
Sinceramente, sei sim, que a Figueira continua a ter, como sempre teve desde que tenho memória, uma elite de merda!

O Zé, não é, nem nunca foi, um político como os demais que existiram nos últimos 40 anos na Figueira. 
Existem livros, alguns dos nomes mais relevantes da nossa literatura, que têm subjacente uma perspectiva depreciativa e pessimista sobre o sistema representativo, em geral, e sobre o município. 
Em termos genéricos, pode citar-se Almeida Garrett, partidário do centralismo administrativo, quando nas Viagens na Minha Terra(1846) faz uma crítica aos "barões" criados à sombra do sistema representativo liberal. 
A partir de 1870, as câmaras municipais, os governos civis e a classe política em geral começam a ser referidos directamente por alguns dos nossos mais notáveis escritores, enquanto locus visíveis e corruptos desse sistema. 
Eles surgem nos romances de Camilo Castelo Branco (Novelas do Minho, 1875, Eusébio Macário, 1879, A Brasileira de Prazins, 1882), de Teixeira de Vasconcelos (Ermida de Castromino, 1870), de Arnaldo Gama (Paulo, o Salteador, 1870), nas peças de Teixeira de Vasconcelos (Para as Eleições, 1868, Liberdade Eleitoral, 1870), nos Serões da Província de Júlio Dinis (1870), em Uma Campanha Alegre de Eça de Queirós (1890), para citar apenas alguns dos escritores oitocentistas. 
Nesta literatura, traça-se uma imagem do município como um espaço povoado por uma população, governada por uns caciques medíocres e incultos que manipulavam as eleições ao serviço da sua carreira política ou das clientelas dos partidos no poder.
Isso, na Figueira, nos dias que passam, continua mais visível do que nunca.

A vida, pelo menos no meu entendimento, é feita de opções.
Foi isso a minha vida: bem cedo, fiz as minhas opções.
Desde os meus 20 anos que coloquei acima de muitas coisas o prazer de ser livre e viver com dignidade.
Foi com essa idade que tive a felicidade de presenciar a libertação do meu país. Foi com essa idade que decidi que, a mim, ninguém mais fecharia “as portas que Abril abriu”.
Ser, em 2016, menos jovem é o que de mais importante me poderia ter acontecido, pois isso permitiu-me viver o 25 de Abril de 1974, que trouxe algo de verdadeiramente novo para a vida dos portugueses.
Portugal, nessa altura, era uma sociedade a preto e branco, como um livro de colorir - a preto e branco, como todos os livros de colorir.
Portugal, nessa altura, apresentava-se apenas com contornos desenhados à espera de ser colorido, como todos os livros de colorir.
Foi isso que eu entendi logo em 25 de Abril de 1974. E foi por isso, que decidi, que era importante, tentar colorir a minha parte.

Como nunca tive muito dinheiro, só consegui comprar um simples lápis de cor – verde, que é a cor da esperança.

1 comentário:

Anónimo disse...

Tudo explicado um produto fabricado pelo Dr Joaquim Pancada. Não precisa de se dizer mais nada