O rio da minha Aldeia, nasce na Serra da Estrela, no concelho de Gouveia, a 1425 metros de altitude.
À sua nascente chama-se Mondeguinho, porque quando nasce, é um pequeno fio de água.
Para que o rio da minha Aldeia se transforme no maior curso de água que nasce em Portugal, precisa das águas dos seus afluentes.
Na margem direita, tem o Dão. Na esquerda o Alva, o Ceira, Arunca e o Pranto.
Entre a nascente e a foz, as águas do Mondego percorrem cerca de 220 quilómetros.
As suas margens, entre Coimbra e a Figueira da Foz, são os terrenos mais férteis de Portugal.
São os campos do Baixo Mondego. É nestas terras que se produz mais arroz, por hectare, em toda a Europa.
Os romanos chamavam Munda ao rio Mondego. Ao longo da Idade Média o rio continuou a chamar-se Munda.
Munda, significa transparência, claridade e pureza.
Nesses tempos, as suas águas eram assim. Agora, os tempos são outros, existe poluição.
Nas águas do rio da minha Aldeia e no resto.
Outrora, o leito do rio Mondego era mais navegável.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha Aldeia.
E para onde ele vai.
E donde ele vem.
É por isso que o rio da minha Aldeia pertence a menos gente.
Mas é mais livre e maior o rio da minha Aldeia....
Pelo Mondego continua a comunicar-se com o mundo.
Pouca gente, porém, pensa sobre o que há para além do rio da minha Aldeia.
Todavia, o rio da minha Aldeia deveria fazer pensar.
Quem está ao pé dele, não está apenas e só ao pé dele...
Portanto, não deveria limitar-se a estar apenas e só ao pé dele...
Antes de desaguar nas águas do oceano Atlântico, junto à Quinta do Canal, defronte a Lares, o Mondego divide-se em dois braços, formando um delta.
O braço direito banha Vila Verde. O braço esquerdo, é o rio da minha Aldeia.
O braço sul, o rio da minha Aldeia, deixa o canal principal do Mondego, na zona conhecida como Cinco Irmãos, a cerca de seis quilómetros a montante da Figueira da Foz, e corre entre a ilha da Morraceira e a margem esquerda do estuário.
Depois de passar frente à minha Aldeia, deixando para trás o Portinho da Gala e a Ponte dos Arcos, o rio da minha Aldeia funde-se no braço norte, em frente à cidade, junto aos estaleiros e porto de pesca, relativamente perto do local onde até meados do século XIX se situava a barra do porto, quando o braço sul era o canal principal do rio que banha a cidade.
O rio da minha Aldeia, não sendo o que já foi, continua a ser fonte de vida, de prazer, de divertimento e de lazer.
Continua a ser de um agrado incontornável olhá-lo, conhecer os seus recantos, as suas correntes e as suas contra-correntes, as suas diferentes tonalidades, o seu murmurar!..
Uma coisa é ser. Outra, é gostar de (a)parecer...
Para quem é, o rio da minha Aldeia continua a provocar emoções...
Mas, é preciso estar atento!
O rio da minha Aldeia, tem uma particularidade: enche na maré alta e quase seca na baixa-mar...
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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