Quê, quem,
de quem, de quê,
onde, donde, por onde,
há, pensa, move, tem,
busca, sugere, esconde,
quê, porquê,
para quê?
Médico e poeta ligado à corrente neo-realista desde o seu primeiro livro (Voz Arremessada ao Caminho, 1943), Armindo Rodrigues (1904-1993) ergueu ao longo de cinquenta anos de poesia uma Obra Poética.
Não desespera apenas a quem não espera.
Desesperada, a esperança espera ainda.
Espera-se até ao fim do desespero.
Armindo Rodrigues, um Poeta quase esquecido, ergueu a sua voz, falou alto e com justiça, participou corajosamente no acto de emendar o rumo da História que, como poucos de nós, viveu por dentro nas linhas cruzadas da própria vida e do tempo que lhe coube viver:
Toda a justiça é injusta, porque julga,
toda a ordem desordem, porque impõe,
toda a verdade errada, porque muda.
Um Poeta recorda-se.
Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.
É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
e, mesmo assim,
só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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