"Quando Pedro Passos Coelho se declarou um social-democrata de “sempre” e para “sempre” apagou a obstinação, a coragem e a clarividência com que governou durante quatro anos. Nada o desculpa. Principalmente não o desculpa que este estranhíssimo regresso ao passado tenha sido provocado pela necessidade táctica de conciliar ou, pelo menos, de calar a “esquerda” do partido, que desde 2011 se juntou à oposição e lhe fez todo o mal que pôde. Esta reviravolta de Passos Coelho é tanto mais desgraçada quanto a social-democracia deixou de fazer sentido e que hoje se limita à defesa da democracia e do Estado Social, duas coisas que em Portugal não estão ou estarão em risco num futuro previsível e que ao fim de 40 anos já não entusiasmam seja quem for.
Não se percebe o que pretende Passos Coelho. Aumentar os serviços que o Estado hoje presta aos cidadãos? Aumentar a área da sociedade que depende do Estado ou que o Estado regula? Afogar o que ainda resta de autonomia e de iniciativa numa país mendigo e miserável? Porque se é isto que esconde a palavra “social-democracia”, há uma pequena coisa a dizer: o dr. António Costa e a extrema-esquerda são sem dúvida muito mais competentes para essa empreitada. Basta ouvir Catarina Martins ou Jerónimo da Sousa, que não abrem a boca sem sugerir que se gastem milhões sobre de euros, para promover a boa moral e a felicidade do povo. Para que se vai meter o PSD (e, por arrasto, o CDS) na feira demagógica para onde o PS nos conseguiu empurrar? Para chegar aonde?
Claro que a política portuguesa vive na iminência de eleições antecipadas. O Bloco, por exemplo, fala em 2017; e o PC, mais sombrio, até em 2016. Não me custa a acreditar que Passos Coelho acabasse por sofrer a influência da ralé partidária, que só pensa em ir para o “governo” o mais rapidamente possível e de qualquer maneira. E também, porque a conheço desde 1978, não me custa a acreditar que a dita ralé pense que leva a sua avante com um pouco de populismo, sob o nome absurdo de “social-democracia”. Cabe a Passos Coelho resistir a estas fantasias (para não lhes dar o nome que merecem) e preparar um plano para a direita ou, por outras palavras, para todo a gente à direita do PS. Se se confundir com a turva onda em que se tornou a antiga coligação CDS-PSD será mau para ele. E para nós."
* Por Vasco Pulido Valente
Em tempo.
Depois de ler esta crónica, interrogo-me: o que pensa esta gente da política como exercício, de facto, da cidadania?
A direita portuguesa não tem ninguém mais qualificado para apresentar do que Passos Coelho, ou continua a ser a mais estúpida da Europa?
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
1 comentário:
O PPD com Futuro!
A direita moderna tem como princípios principalmente a preocupação com os valores tradicionais, a defesa da lei e da ordem, a preservação dos direitos individuais e a restrição do poder do Estado, associado ao liberalismo num sistema com estabilidade social e solidariedade nacional. A direita moderna não se identifica com os conservadores do Tea Party (a corrente radical de direita no Partido Republicano americano) e nada tem a ver com a direita dura, tradicional, que se sucedeu sob várias formas ao longo do século XX.
Recentemente o italiano Raffaele Simone, defendeu a tese de que o mundo é naturalmente de direita e, por isso, esta, para existir, só precisa de preservar uma posição “naturalista”, enquanto a esquerda é um artifício, uma construção abstracta. Esta nova direita é, pura e simplesmente, um realismo. Por isso é que não precisa de grandes elaborações teóricas e que avança para um diálogo com a Ciência e incorpora novas áreas do pensamento político institucionalizado e vigente.
A direita reconfigurou-se (mal) em Portugal com Passos e amigos. Hoje quer recuperar a ideia de “social-democrata”, mas a mudança ideológica que produziu não foi boa para o PPD. Esqueceu a “social-democracia”, a redistribuição e quase fundiu o seu pensamento com o (marginal) CDS. Para o governo o ajustamento de uma economia fez-se por via da flexibilização do mercado de trabalho, a redução de salários resolveu o problema do desemprego e o corte no Estado resolveu o problema do défice. A liderança de Passos criou uma nova corrente no PPD e fora dele, que se afastou do centro-direita do velho partido e que os quatro anos de governo permitiram consolidar. É meu entender que a nova direita social-democrata deve mobilizar para enfrentar o situacionismo, deve criar instrumentos de participação e não de passividade, de criação e não de obediência, contra o vazio do pragmatismo de Passos e seus apaniguados.
Acham que se não tivermos ambição, iniciativa e responsabilidade individuais, teremos alguma vez uma sociedade mais justa? É verdade que um partido como o PPD está com dificuldade em afirmar uma clara identidade ideológica e em diferenciar inequivocamente as suas propostas, mas tal deve-se, no essencial, a si mesmo e a uma errática actuação política. Um PPD necessariamente Humanista, Solidária, com profundas preocupações Sociais que impeça a esquerda de reclamar o eterno exclusivo do combate à injustiça e à desigualdade, seria um bom contributo.
Interessa isto tudo para alguma coisa? Creio que sim, porque são sinais de uma discussão política urgente no seio do PPD, que ajude a clarificar o eleitor e o país.
E por favor não denigram Manuela Ferreira Leite porque ela diz que ainda quer ser social-democrata!
PS Também a discussão do futuro do PPD deveria passar pela F Foz. É altura de pensar, a sério, na reconquista da Câmara.
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