quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Ontem, "morreu" um cronista?..

Ontem, foi um dia especial para mim.
Não por António Tavares, o cronista "mór" do regime, ter interrompido a colaboração que, durante dois anos, às terças-feiras, publicou nas páginas do jornal AS BEIRAS, mas por motivos pessoais

Que eu tenha conhecimento, para além do Director do jornal, ninguém assinalou o evento. 
Embora com um dia de atraso, fica registado aqui o fim dos escritos sobre a banalidade do quotidiano, do único intelectual figueirense vivo.

A vida dos escassos figueirenses que ligam a estas minudências, ficou lixada, mais pobre e menos interessante.
Desde logo, porque vão deixar de sofrer de irritação crónica às terças-feiras.

Para ocupar o seu espaço, a partir de ontem, os figueirenses têm Isabel Maranha, actual presidente da Assembleia de Freguesia de S.Julião e Buarcos e ex-vereadora da autarquia figueirense.

Com todo o respeito e apreço intelectual pela substituta do dr. António Tavares, as terças figueirenses não vão ser a mesma coisa, apesar de escrever ser uma coisa muito fácil. 
Basta ter um teclado à frente. Depois, é só fazer combinações de letras até a coisa fazer sentido. 

Não sei se isso vale para os cronistas, mas quando um escritor morre, as livrarias apressam-se em arranjar-lhe um pequeno canto onde reúnem todas as edições possíveis e imaginárias da sua obra. 
Muitas delas, resgatadas a um esquecimento que tresanda a mofo, vêm de caves e depósitos e aparecem com roupas (leia-se capas) fora de moda. 
Apesar dos livros se sentirem orfãos, tentam não chorar, para não desbotar a voz do seu autor.

A vida de um escritor é tramada!
Logo no momento em que ele está mais vulnerável é que acaba por ficar tão exposto aos olhos do mundo, com o seu frágil e sensível cadáver de letras feito. 
O velório, "com caixão aberto",  tem como pretexto, não sei se sincero ou oportunista, honrar a memória do defunto escritor. 
Todavia, enquanto a sociedade se veste de luto pelo autor, as livrarias esperam vendê-lo mais. 
A razão é simples: sabem que os vivos gostam de dar valor aos "mortos".

6 comentários:

Anónimo disse...

Camarada quaNdo é que é o enterro do bacalhau da 10 de Agosto?

ANTÓNIO AGOSTINHO disse...

... presumo que o mau tempo, apenas o tenha adiado.

Anónimo disse...

Que chatice, acabou-te o assunto às terças que fazias render pela semana fora interminavelmente. Agora ficas entregue à tua própria criatividade literária. É ótimo para provares que não és sanguessuga e és capaz de ter assunto próprio sem te socorreres de links de postagens inteiras dos escritos alheios.

ANTÓNIO AGOSTINHO disse...

... que chatice, mesmo!...
E logo agora que se pode gerar receitas com o blogue.
Ainda há bocado carreguei e deu frango de açafrão.
Vai ser o meu almoço...
Em 20 minutos, e só sujando um tacho, saiu um arroz bem saboroso e saudável...

Anónimo disse...

Pois é mesmo uma xatice mas isso não me interessa estou mais preocupado com o fecho das livrarias.
Ainda vou ter que pedir á mulher das pevides que me venda a porra dos livros

A Arte de Furtar disse...

“Meu caro amigo, me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
….”
“Meu Caro Amigo” - Chico Buarque de Hollanda

Da série "Coisas Verdadeiramente Surpreendentes" – intervalo no trabalho; consulta rápida do blog para saber novidades locais e “Não “acardito” que te fizerem isso”, diria o Jorge Jesus!
O ponto final já lá está, colocado pelo jornal “As Beiras”. Uma pena. Desaparece um colaborador com curriculum profissional, político e um premiado autor literário. Apesar de crítico do conteúdo (político) de muitos dos seus escritos, reconheço que sempre eram mais ricos e estruturados do que muitos colaboradores que passam por esse jornal. Aliás o jornal deveria repensar o leque de comentadores políticos, de tão banais serem as suas crónicas.

Mas, caro Sr, neste momento político o importante é desdramatizar, por isso continuemos a viver alegremente na ilusão de que o mundo é uma comédia, e que a sua actuação (enquanto vereador) não merece que lhe faça (hoje) um epitáfio.
Se isso o conforta recordemos que o senhor Pessoa nunca teve um prémio literário. Pior: concorreu para bibliotecário em Cascais e foi vetado.

"Quando se tem o espirito elevado e o coração baixo, escrevem-se grandes coisas e as que se fazem são pequenas." - Albert Camus, in "Cadernos"-


PS: Tenho estado meio desligado; há por aí alguém que saiba se o sr Portas já reconsiderou?