Um homem solitário, com chapéu e óculos escuros, empunhando uma pistola, assaltou uma agência da Caixa Geral de Depósitos (CGD), em Buarcos, Figueira da Foz, pondo-se imediatamente em fuga.
Chegou como se de um cliente normal se tratasse. Esteve na fila e foi deixando que as pessoas passassem à sua frente.
Entretanto, o número de clientes foi diminuindo: quando sacou da arma encontrava-se, pelo menos, um cliente no banco.
O homem, que segundo fonte policial andará na casa dos 30 a 40 anos, não precisou de usar de violência para consumar o assalto.
O roubo rendeu-lhe mais de três mil euros.
Estava muito calmo, mas tinha um ar estranho.
Epílogo.
Depois, educadamente, com a mão direita, levantou o chapéu da cabeça, despedindo-se com cortesia, educação, gentileza e boas maneiras, limpou os óculos escuros, meteu a pistola no bolso do casaco, saiu calmamente das instalações bancárias, montou na bicicleta e pedalou tranquilamente, sumindo-se nas ruas da cidade.
Os solitários estóicos andam todos de bicicleta.
(Esta crónica ficcionada, foi escrita a partir da leitura dos jornais de ontem.
O epílogo, também ficcionado, foi escrito a partir da imaginação do autor do blogue Outra Margem.)
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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