"Já foram apontadas as principais falhas que provocaram o drama que se viveu na barra da Figueira. Há muitas responsabilidades a apurar, falhas técnicas, falhas humanas, etc. Mas a falha política, a falha de quem tutela os serviços de socorro é a falha mais fria, a mais racional, a mais pensada, aquela que não depende de um instante infeliz de um homem ou de uma falha técnica ocasional de uma máquina. E neste caso essa falha, foi a decisão de encerrar os serviços de socorro às 18 horas. A decisão de restringir a um determinado número de horas por dia serviços de emergência dedicados a acudir acidentes que podem ocorrer durante as 24 horas do dia comporta sempre enormes riscos de mais tarde ou mais cedo se consumar um acidente fatal. É aqui que se traça a fronteira entre a austeridade que mata e políticas de racionalização que não entram em conflito com o conceito de urgência. Um ataque cardíaco tal como um acidente marítimo não têm horas do dia para ocorrer, mas este governo repetidamente implementou medidas de racionalização irracionais, limitando horários de determinadas urgências ao comum horário laboral, como se a morte ao final do dia fosse também para casa jantar e dormir. O conceito estendeu-se à segurança marítima e o acidente acabou por acontecer."
Rui Curado da Silva no jornal AS BEIRAS.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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1 comentário:
Tem razão!
Isto de ser a folha EXCEL a mandar nas nossas vidas, dá em asneira.
Tudo é quantificado!
Virá o dia em que também seremos tatuados com um código de barras?
O que fica deste trágico acontecimento é a revolta.
Mas essa energia tem que ser canalizada para, nos sítios certos, continuarmos a denunciar as injustiças. Nos blogs, nas assembleias municipais e de freguesia, nos jornais, no café, na rua...
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