Sondagens!..
Temos de tudo, à escolha do freguês: amostras que rondam as 300 entrevistas válidas; sondagens nas quais apenas são sondados residentes do continente com telefone fixo; contagens de voto que não têm em conta a densidade populacional de cada região e a distribuição de mandatos por círculo eleitoral (ou se têm, partem de inexplicáveis distorções); e até uma sondagem que, partindo de uma amostra com distribuição por regiões do país, distribui os mandatos por círculo eleitoral (que não coincidem, como é evidente, com as regiões), construindo um potencial parlamento para usufruto dos comentadores, que depois discorrem longamente sobre cenários hipotéticos e pouco verosímeis. É um festim.
Mas se tudo isto já é muito mau, pior é o relato feito por Glória Franco, candidata do Livre/Tempo de Avançar pelo distrito de Évora, de uma inusitada entrevista telefónica realizada pelo centro de sondagens da Universidade Católica (por sinal a empresa que está a fazer a tracking poll que mais avanço dá à coligação de direita).
"- (...) Estamos a realizar uma Sondagem para a Universidade Católica e a Sra. foi seleccionada. Quer responder? (...) Em que força política votaria hoje em eleições legislativas?
- Voto no Livre/Tempo de Avançar.
- Desculpe, que partido é esse?
- Está a entrevistar-me telefonicamente e não sabe (...)?
- É o da Ana Drago, não é? Diga-me por favor: há mais alguém aí em casa, disposto a participar na sondagem?
- Há sim. Vou chamá-la. [Não havia, de facto, mas a nossa companheira quis ver até onde iria a coisa... tendo disfarçado a voz].
- Boa noite.
- Boa noite. Quer participar na sondagem da UC? (...) Em quem votaria se as eleições legislativas se realizassem hoje?
- Voto no Livre.
- Mas aí em casa votam todos no mesmo?! Obrigado pela participação e boa noite."
Portanto.
Votar - e votar em consciência - é a única e verdadeira resposta a todas as legítimas dúvidas acerca de como melhorar o futuro das nossas aspirações e perspectivas de vida.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
1 comentário:
A) Passos promete «ainda melhor saúde, educação e apoio social»
Gosto do "ainda"...
B) São da Parvalorem e tomam-nos por parvos!
«"O que nos pergunta é: 'Qual é a vossa melhor expectativa relativamente à informação e às garantias que temos no momento?'
E nós considerámos que não fazia sentido estar a agravar, no momento, as imparidades"»
É só palavras novas!
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