"Há quem não tenha percebido porque é que as alterações na Taxa Social Única causaram, em 2012, tamanha indignação. Foi porque sintetizavam a frase dita, um ano antes, pelo primeiro-ministro: “Só vamos sair da crise empobrecendo.”
A estratégia corresponde a dois ajustamentos simultâneos: na redução dos custos de trabalho, para diminuir os custos de produção e aumentar as exportações; e na redução do poder de compra, para diminuir o consumo interno e as importações.
Mas, ao tirar ao trabalhador para dar ao patrão, a alteração da TSU proposta em 2012 deixava também evidente uma das duas grandes transferências de recursos a que estamos a assistir: do trabalho para o capital.
A proposta que agora é apresentada parece menos maligna.
Os descontos dos patrões são reduzidos, os dos trabalhadores ficam na mesma.
Mas esta alteração aumenta, no conjunto dos descontos, a proporção que está a cargo do trabalhador. E põe em causa a sustentabilidade da segurança social, levando inevitavelmente a novos cortes nas pensões, que também são rendimento do trabalhador.
O que não tiram agora vão tirar depois."
Daniel Oliveira
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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