domingo, 20 de julho de 2014

Na Aldeia... (II)

A mudança, porventura, lá para setembro, não vai mudar a vida na Aldeia.
Como não mudou em outubro do ano passado.
Na Aldeia, estes últimos 6 meses deram para ver, a vida não muda assim tão facilmente...
O que mudou a vida – a minha vida – foram aqueles momentos que ficaram gravados para sempre debaixo da pele, no lado esquerdo do peito.
Assim, de repente, recordo o primeiro beijo, uma reconciliação, a perda irrevogável de alguém que se ama, o momento em que consegui o primeiro emprego (mesmo a ganhar uma ninharia – estávamos em janeiro de 1973...), uma revolução ganha pelo povo nas ruas a cantar a pulmões cheios e perdida pelo mesmo povo nas urnas, aquele concerto do Carlos do Carmo na primeira Festa do Avante na antiga FIL, o nascimento da minha filha, alguns reencontros, alguns desencontros, inúmeras desilusões...
No resto do tempo, tenho tentado apreciar o essencial e descartar o acessório.
Assim, de repente, no futuro, gostaria ainda de poder recordar o jackpot no euromilhões e, ao menos, um pôr-do-sol de verão com alguém que tenha um abraço amigo, ternurento e quente, o que este ano não está a ser fácil...
Quanto ao resto: a vida na Aldeia vai continuar a fazer o seu caminho e dispensa que eu me aborreça com isso...
Aliás, como já escrevi em abril de 2010, aqui, quem conheça, minimamente que seja, a história da Cova-Gala, sabe que sempre foi uma aldeia pobre e periférica.
A vida local, virada para o mar e para a América (eram até há poucos anos atrás, as nossas grandes aventuras), ficou a dever-se, apenas, à insustentabilidade de cá viver.
Foi assim que, desde os finais do século XIX, nos atirámos para a diáspora, que continua ainda hoje, embora agora para destinos mais diversificados, mas que continua a levar alguns dos melhores para longe.
A falta de capacidade da Aldeia em gerar riqueza e bem-estar, tem obrigado os covagalenses a deixar o torrão natal em busca do pão noutras paragens – no país e no estrangeiro.
Qual maldição, persegue-nos a incapacidade local, para construir uma sociedade desenvolvida e evoluída, seja a que nível for - cultural, social e económico.
A acção dos políticos locais, nos últimos 20 e tal anos, teve em vista – e conseguiu e vai conseguir... - manter o status quo duma sociedade amorfa, descrente, pouco exigente, controlada em rédea curta, por via de uma política de várias dependências.
Ser cacique, como alguém me disse um dia numa conversa de café, dá muito trabalho. Mas, só assim se mantêm a rédea curta e se assegura a inércia que não permite a mudança do sistema de funcionamento da vida na minha Aldeia.
S. Pedro, vai continuar a ser o que é: uma mera entidade administrativa. Não tem alma.
Cova e Gala é a nossa Identidade, a nossa História, a nossa Alma aquela pequena terra que já foi mais de pescadores que não tem nome no mapa nem referência nas enciclopédias, mas vive, existe e pulsa, onde o «pato bravismo» já destruiu o que pôde – até o passado de que passa a vida a dizer-se defensor.

3 comentários:

Anónimo disse...

Não quererás dizer "século XIX" !?
Quanto ao resto estou de acordo com quase 99 %.
Cumprimentos.

ANTÓNIO AGOSTINHO disse...

Obrigado pelo alerta. A rectificação está feita. retribuo os cumprimentos.

Olímpio disse...

A memória deste bonito espaço merece um imenso respeito. Nele viveram gentes que amaram e sofreram com a água junto aos pés
Ou sabemos respeitar as memórias ou então somos atacados por uma irracionaliade que nos mata e rouba o sentido da vida.