António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
quarta-feira, 22 de maio de 2013
No país da contrafacção
Arranja as miúdas mais giras da escola e põe-nas no Facebook com as camisolas que idealizou, estilo Linha de Cascais (costumo ver umas iguaizinhas na Feira da Senhora da Hora, de marcas famosas, mas como são os ciganos a vendê-las, chamam-lhes contrafacção). Começa então a vender bem e tem de contratar uma fábrica para lhe produzir as camisolas.
Se aqueles que lhe fazem as camisolas ganham 485 por mês, é coisa que nunca lhe ocorreu. O Martim é jovem e no meio em que se move se calhar ninguém ganha isso. O Martim é jovem, pode ser completamente insensível socialmente que a malta perdoa-lhe.
O Prós & Contras é especialista em trazer-nos figuras bizarras. Mas o Martim, que nem precisou de bater punho para ter sucesso, é tudo menos bizarro. Com 16 anos, já a sabe toda. Quanto às raparigas giras que usou como modelos, e que agora «já não servem», com um bocado de sorte terão outra serventia. Estarão daqui a uns anos a caminho de uma qualquer fábrica, onde trabalharão a troco do salário mínimo para enriquecer um qualquer Martim deste país.
Azar. Se estivessem desempregadas era pior.
Via Aventar
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