Quando entro num supermercado e me deparo com mais uma das promoções do Banco Alimentar Contra a Fome de Isabel Jonet – aproximamo-nos de mais uma – sou possuído por um duplo sentimento de revolta e desconforto porque há quem precise de mendigar para sobreviver.
Depois, à medida que vou fazendo as compras, começo a pensar nos milhões extra que o Belmiro e o Soares dos Santos irão acumular nesse dia, sem encargos suplementares nem promoções. E nos milhões que o IVA da caridade – porque ao contrário do que se pensa esta caridade paga imposto e não dá lugar a quaisquer deduções – irá deixar nos cofres do Estado. Esse mesmo Estado que corta os ordenados, aumenta os impostos e diminui ou retira os subsídios e as pensões. Os mesmos milhões que se multiplicam com as Popotas e as Leopoldinas e mais quejandos que na época do Natal, como a que atravessamos, nos inundam de gigantescas promoções instigando ao consumo supérfluo em nome da exploração sem limites do sentimento de solidariedade que domina a época natalícia. No fim, a troco de uns tostões de solidariedade, ficarão os cofres do Estado e dos Belmiros e Cia cheios de milhões.
Passo a Passo, Passos Coelho caminha para a fundação do seu Estado esmolar. Para já, vai semeando a fome. Depois, proclamará que é Natal todos os dias. (Via abrasivo).
Em tempo.
"Para quem tem uma boa posição social, falar de comida é coisa baixa. É compreensível: eles já comeram."
Bertolt Brecht, há 70 anos...
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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