Não estão fáceis os tempos para o negócio da Imprensa. Tão-pouco para o exercício do jornalismo. Mas à angústia dos dias prefiro inquietação de sempre. Eu, que escrevo As Beiras todos os dias desde o primeiro.
As Beiras é um caso raro de sobrevivência empresarial e editorial.
Em Coimbra, cidade e região de tradições na edição de jornais, mas também no cenário nacional, em que os diários de difusão local e regional se contam pelos dedos.
No início, a energia militante de fazer uma cidade e um mundo novos foi determinante no romper de uma barreira de imobilismos locais. À frente, o Diário de Coimbra acumulava 60 e tal anos e não parecia disposto a arrojos. Ao lado, outro título valioso, o Jornal de Coimbra, vivia já o seu estertor. À parte, alguns cabeçalhos de quase nicho apenas existiam. A todos As Beiras trouxe desafios que nem todos souberam ou lograram vencer.
Em 18 anos, o mundo e Coimbra mudaram e As Beiras também. É hoje um espaço de mais partilha e de muito mais responsabilidade. E é também uma referência incontornável de modernidade, num sector que, a este nível, se fica pela prudência.
Os desafios, agora, são ainda para o exterior, onde a presença interventiva e inovadora de As Beiras vai continuar a merecer receios e a provocar reacções concorrenciais nem sempre dignas. Mas são também para o interior, para os jornalistas e para todos os profissionais que sabem que só os mais inteligentes e os mais lúcidos são capazes de dotar-se da rija têmpera que os tempos difíceis exigem.
Paulo Marques, Jornalista, via Aventar
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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