Hoje, ao passar os olhos pela imprensa, revivi, sabe-se lá porquê, um quadro da minha infância, em Lisboa…
Deveria ser um domingo ... Vindo da Travessa do Pasteleiro, desci a Rua da Esperança rumo ao Conde Barão.
Pelo caminho, a meio da tarde, passo por inúmeros velhos, sozinhos, sentados, no “Jardim dos Gatos”, de ouvido colado nos transistores a vibrar com o relato da bola e a olhar sofregamente para os boletins do totobola…
À distância, recordo um quadro ternurento, mas, ao mesmo tempo triste e cruel, da vida do nosso País na década de 60 do século passado.
Hoje, continuo a ver os velhos nos bancos dos jardins, sozinhos, sentados com os boletins da sorte na mão…
O que mudou, entretanto, na vida dos velhos?...
Creio que pouco... Do boletim do totobola passaram ao boletim do euromilhões!..
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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