Se acreditarmos que temos os políticos que merecemos, que o povo de votantes segregou eleitos à sua imagem e semelhança, somos responsáveis por estes. Eu sinto-me responsável por Jerónimo de Sousa. Vocês pelos outros.
Não alijo as minhas responsabilidades. Este é o meu país.
Gostava que o líder do meu país fosse diferente. Um homem ou uma mulher sábios, por terem pensado muito, cultos, por terem estudado, modestos, por haver certamente homens e mulheres mais sábios e mais cultos, viajados e cosmopolitas, por ser esta uma das maneiras de conhecer o próximo e demarcar-se às visões paroquiais, com humor. Capazes de dizer não sei, não faço ideia, não tenho solução para isso, não estou preparado para responder, não quero responder a essa pergunta.
Um líder raro como a gente comum. Capaz de se indignar, mas não em estado de permanente indignação. Capaz de emoção, riso, espanto, surpresa, alegria, esquecimento e fragilidade.
No fundo, uma pessoa!..
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
Sem comentários:
Enviar um comentário