Três dias depois da maior greve geral em Portugal, o país aparentemente voltou à normalidade.
É domingo. Ontem, sábado, houve derby futebolístico. O Porto lá conseguiu sobreviver em Alvalade.
Mas, o país está triste. Andamos quase todos preocupados e a pensar na vida.
E, no entanto, o país move-se. Digam o que disserem, o protesto teve expressão: mostrou um país real que não está vencido, que demonstrou o quanto há de indignação e injustiças acumuladas.
Aqueles que nos últimos trinta e tal anos têm complicado o nosso futuro, ficaram a saber que Portugal, embora muito lentamente, está a mover-se.
Há pormenores e indícios importantes: a unidade sindical, algo muito complicado e difícil nos anos anteriores, funcionou na preparação desta greve geral.
E os resultados viram-se. A greve não paralisou o país, mas deu dimensão e expressão às angústias e incertezas que, quase todos os portugueses, sentem no tempo que passa.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
1 comentário:
Quase inacreditável uma greve geral neste século 21. Se não parou o país,deu a dimensão às incertezas de todos os portugueses, concordo com você.
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