foto de Pedro Cruz
Quem conheça, minimamente que seja, a história da Cova-Gala, sabe que sempre foi uma aldeia pobre e periférica. A vida local, virada para o mar e para a América (eram até há poucos anos atrás, as nossas grandes aventuras), o que ficou a dever-se, apenas, à insustentabilidade de cá viver.
Foi assim que, desde os finais do século IXX, nos atirámos para a diáspora, que continua ainda hoje, embora agora para destinos mais diversificados, mas que continua a levar os melhores para longe.
A falta de capacidade da aldeia em gerar riqueza e bem-estar, tem obrigado os covagalenses a deixar o torrão natal em busca do pão noutras paragens – no país e no estrangeiro.
Qual maldição, persegue-nos a incapacidade local, para construir uma sociedade desenvolvida e evoluída, seja a que nível for - cultural, social e económico.
A acção dos políticos locais, nos últimos 20 anos, teve em vista – e conseguiu - manter o status quo duma sociedade amorfa, descrente, pouco exigente, controlada em rédea curta, por via de uma política de várias dependências.
Atente-se, por exemplo, na política que a junta local entendeu praticar nas duas mais antigas colectividades da aldeia, nos últimos 5 anos, para melhor se entender a dependência em que caiu toda a vida destas colectividades. Compreender-se-á, assim, com facilidade, a profunda crise em que está mergulhado todo o associativismo da paróquia.
Levou-se a cabo uma política de atribuição de subsídios, sem critério, a colectividades que apenas praticavam as modalidades de bar aberto, mas concessionado, para proporcionar a prática da sueca, mas do voto garantido pelo medo de que outros possam discordar de tal caridade e de tal desperdício de dinheiros públicos.
Tal prática, consumou na minha aldeia, uma franja da sociedade de alguns favorecidos, a par de uma outra, de desfavorecidos.
Ser cacique, como alguém me disse um dia destes numa conversa de café, dá muito trabalho. Mas, só assim se mantêm a rédea curta e se assegura a inércia que não permite a mudança do sistema de funcionamento da vida na minha aldeia.
Pelo actual rumo, está garantida a pobreza de espírito e a humilhação de não podermos ser donos de nós próprios. Muito menos, do futuro da aldeia.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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