Cliente:
- Não o tinham avisado que ia ser um ano difícil?..
Empregado:
- Parece que toda a gente sabia, mas ninguém conseguiu fazer nada …
Cliente:
- A crise é geral!..
Empregado:
- Pois é, bate-nos à porta e ficamos como o governo: sem saber o que fazer para dar a volta à situação…
Cliente:
- Oh homem, não seja assim, não atire a toalha ao chão.
Empregado:
- Foi o que eu fiz, você acha que eu deixei que a crise me tirasse a alegria de viver?... Você acha, que eu gasto tempo em lamúrias?.. Continuei a sorrir, mesmo quando o que me apetece é gritar!...
Cliente:
- Isso… Tenha confiança, o nosso governo está atento…
Empregado:
- Aos mesmos de sempre…
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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