António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Carta ao Pai Natal
Bom dia, Pai Natal, vou ser breve e frontal, acabei de acordar, fiquei a matutar, mas acho que não é sonho, o que vivi durante o sono...
“O que está à vista de todos, mesmo em época de Natal, não é a essência gananciosa da natureza humana, que essa existe e é normal. É, antes, a constatação de que as instituições só existem no pressuposto de uma natureza humana puramente gananciosa. Quem lida com as instituições dos mercados financeiros comporta-se como se só os puramente gananciosos tivessem hipótese de sobrevivência... Esta utopia neoliberal está a desfazer o tecido social e a moral...”
Agora que acordei, ouve a minha prece, Pai Natal.
Ao chegares às chaminés do meu país, Pátria desafortunada, sem euros, Terra da má sorte, sítio de oferendas e de prebendas dadas sem qualquer critério, que perpetuam uma tradição, caduca, reaccionária, clerical, que tu representas pai do natal, peço-te que a data do Natal seja referendada, pois, mesmo num estado economicista e liberal, o Natal pode ser celebrado quando o homem quiser.
Ouve Pai Natal.
Como tu, tenho já uma certa idade e no ventre a mesma proeminência... Se te portas mal, não leves a mal, mas para o ano quero ser eu o Pai Natal.
Portanto, vai fazendo as malas. Desocupa a Lapónia.Tem lá paciência Pai Natal, mas isto, por cá, anda mesmo muito mal...
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