sábado, 19 de julho de 2008

O que se passa com esta democracia?...

Valentim Loureiro, condenado pelos crimes de abuso de poder e de prevaricação, no âmbito do processo Apito Dourado, viu o presidente da Comissão Política Concelhia do PS de Gondomar, Arménio Martins, pedir a sua «demissão imediata».
Reagiu de pronto: “no mesmo dia em que foi condenado por um tribunal anunciou que se tenciona recandidatar e que vai ganhar.”
E é capaz de ter razão!..
Nem de propósito: ao mesmo tempo que estou a trabalhar neste post, ouço na Antena 1, que Avelino Ferreira Torres vai ser o próximo candidato do CDS à Câmara do Marco de Canaveses...
E, de certeza, convencido que também vai ganhar.
E é capaz de também ter razão!..
Lembrei-me do que li, há uns meses, no DN.
“A qualidade da democracia portuguesa está longe de ser comparar às melhores democracias europeias. Ao invés, encontra-se bastante abaixo da média, situando-se ao nível de países como a Lituânia e a Letónia, e só acima da Polónia e da Bulgária.”
O 25 de Abril de 1974 começou por oferecer liberdade, igualdade, fraternidade e justiça.
O Povo, que não reflecte sobre as lições da história, foi na cantiga e acomodou-se.
Será que, depois de 40 anos de ditadura, a democracia portuguesa já amadureceu demais?


3 comentários:

Anónimo disse...

O 25 de Abril de 1974 começou por oferecer liberdade, igualdade, fraternidade e justiça.

Por oferecer, não por dar.

Essas coisas são coisas perigosas na posse de incultos, de gente sem sentido de rsponsabilidade.
Ofereceu-se, mas não se deu. As pessoas pensaram que sim. Como cheirar a sardinha assada sem se saber onde está a ser feito o petisco. Não vale de nada.
Nem o 25 de Abril foi feito para isso, foi feito para acabar com as idas para a guerra, para a obtenção de modomias tais que permitiam aos militares ganhar mais como reformados do que no activo, ter assistência médica e mediamentos à borla para si e a familia toda, comer à borla nas messes e clubes, familia incluida, ter hospitais exclusivos com tudo o que lá está dentro. Foi também para deixar um bando enorme de ladrões apossarem-se disto esmagando os cidadãos trabalhadores até obterem a carne, o sangue e o suor.
Se é nisto que estamos, é porque foi para isto que se fez o tal 25 d' Abril.
Percebeu?

ANTÓNIO AGOSTINHO disse...

Caro anónimo, “Sobre o tempo que passa”, cito partes deste post que pode ler na íntegra clicando http://tempoquepassa.blogspot.com/:

“Os regimes, em Portugal, caem de podre porque, muitas vezes, ultrapassam todos os prazos de validade que lhe garantiam autenticidade. Só que a apatia e o indiferentismo gerados pelas manobras da elite no poder, lançam o colectivo numa inércia cobarde, inversamente proporcional ao activismo dos oposicionistas, cujo vanguardismo, marginal face à opinião pública, resulta, precisamente, da frustração de não se sentirem, entre ela, como peixe na água.

No plano das consequências, o golpe de Estado do 25 de Abril de 1974, que Costa Gomes, no plano operacional qualificará como um acaso cómico, é uma espécie de libertação da mola desoprimida que se partiu, para utilizar-se uma expressão de Fernando Pessoa.

É que, como Salazar tinha confessado a António Ferro, o povo português é bondoso, inteligente, sofredor, dócil, hospitaleiro, trabalhador, facilmente educável, culto, mas excessivamente sentimental, com horror à disciplina, individualista sem dar por isso, falho de espírito de continuidade e de tenacidade na acção, pelo que de tempos a tempos se assiste ao fenómeno de nascimento de certas ondas de pessimismo, dessa ânsia de deitar tudo a perder, não se sabe bem porquê, porque sim, desejo infantil de variar, de mudar, de quebrar o boneco para ver o que tem dentro.

Abril é, sobretudo, essa descompressão, inicialmente gerida por uma Junta de Salvação Nacional, donde emerge um Presidente da República, o General António de Spínola, um Governo Provisório e um Conselho de Estado, tudo em nome de um programa do MFA que promete a democracia política pluri-partidária, um desenvolvimento socializante e uma descolonização com autêntica autodeterminação das populações coloniais, admitindo-se tanto a plena independência como a própria permanência na área da soberania portuguesa. Só que o programa é rigorosamente vigiado por uma comissão coordenadora dos jovens oficiais que haviam corporizado o golpe, divididos entre os operacionais, como Otelo Saraiva de Carvalho, e os mais intelectuais, como Melo Antunes, e, além disso, há o povo inorgânico, os homens da comunicação social e da cultura também comunicacional, os restos da oposição clássica e os movimentos políticos nascidos nos crepúsculo do regime, entre estudantes e sindicalistas politizados.

Digamos que nesse dia de 1974 nos vimos livres de um regime que havia sido montado por um avô autoritário, ao estilo do pai tirano, para, depois de algumas cenas de violência familiar, chegar o tempo da geração do pai modernaço e bon vivant, muito viajado, que não tinha problemas de abrir as janelas, porque resistia às correntes de ar.

Por isso é que, a certa altura, no fim da década de oitenta, os membros da família, fartos dos laxismos desse pai modernaço, que não gostava de ler dossiers e que até meteu a ideologia na gaveta, pediram ajuda a um tio austero, que nunca tinha dúvidas e raramente se enganava. E é ele que trata de pôr ordem no orçamento, pinta a casa e arranja os caminhos e as cercas do quintal.

Por outras palavras, como dizia Ortega y Gasset, todas as revoluções são pós-revolucionárias. Medem-se menos pelas intenções dos primitivos revolucionários e mais pelas acções dos homens concretos que fazem a história, sem saberem que história vão fazendo. Porque, na prática, a teoria é outra...

Vai, a partir de 25 de Abril de 1974, viver-se a euforia. Libertam-se os presos políticos. Deixa de haver censura prévia. Regressam os exilados. Surgem à luz do dia os partidos políticos. Álvaro Cunhal atravessa a cortina de ferro e chega de avião ao aeroporto da Portela. Soares vem de Paris, de comboio, e desembarca na estação de Santa Apolónia. Cunhal emociona-se na frieza de ter que cumprir o papel de Lenine. Soares, sem papel, é demagogo, fala em democracia, mas logo clama pela necessidade do fim da guerra.

Os portugueses acordam estremunhados de um sono forçado que teria quase meio século de censuras, proibições e repressões. Embriagam-se colectivamente com liberdade de expressão, liberdade de reunião, liberdade de associação. Com liberdade e libertinagem. Há comícios, manifestações de apoio e de repúdio, bem como mesas redondas que debatem o que até então haviam sido os livros proibidos, os filmes proibidos, as palavras proibidas.

Todos correm à procura de um tempo que julgam perdido, sonhando viver em poucos dias o que outros povos polidos e civilizados haviam levado décadas a germinar e a consolidar.

Abril ressoa a nevoeiro feito aurora, é a revolução de um Portugal mais inteiro, com justiça, com primavera, com nação de corpo vivo. E para muitos, até Spínola se assume como o condestável da lusitana antiga liberdade, ao sinal do antes quebrar que torcer, nesse dia que parece de ressurreição, onde soldados nos dão crenças, horas de sonho, com liberdade e com pão.

Quebrando as algemas da tirania, parece que regressa o Portugal marinheiros, dos heróis do mar, do nobre povo, da nação valente e imortal, gritando às armas, às armas da libertação, sobre o silêncio das praias desertas com direito a azuis infinitos. E assim como que voltam o Quinto Império, as baladas de Bandarra, a Mensagem de Pessoa, as profecias de Vieira, a luz vencendo a bruma, com Camões regressando, numa mão a espada, na outra, a pena.

Porque ainda ontem era o triste dedilhar das guitarras, quartos escuros em mansardas e as janelas saudosas sobre os telhados de uma cidade morta, a lua escondida, por trás das chaminés, restos de chuva nas ruas e alguém escondido, à luz dos candeeiros, enchendo folhas brancas de palavras negras, palavras que só ele um dia poderia ler. Agora, a rádio vai trazendo novas de liberdade, diz que os tiranos foram libertados e canta liberdade em hino nacional, tudo parecendo voltar a ser o Portugal-missão.
O desencanto seguirá dentro de semanas.”

E aqui está ele.

Anónimo disse...

Sem tirar nem pôr.
Infelizmente, por total culpa dos mais baixinhos, aquilo estragou-se tudo. Os mais baixinhos estragam sempre tudo, ao pôr-se em bicos de pés para ser como os grandes, como os doutores, como os patrões e os directores.
Ser tudo isso, mal sabendo ler e escrever (cada vez pior, como sabes)tem de dar mau resultado.
Chegados a este Julho de 2008, tudo o que de mau nos aconteceu, está e vai acontecer é por clpa de uma só entidade.
Os outros.
Somos os maiores e melhores em tudo, ganhamos campeoatos mesmo ainda antes de eles começarem, estamos blindados a crises e ao mau tempo que os outros enfrentam. Mas somos de memória fraca, esquecemo-nos que agora temos as tais janelas e portas abertas.
Até pela linha do telefone nos entram as pulgas e os mosquitos.Carraas, sempre tivemos.
Claro que a se a culpa é dos outros, dos de fora e dos de dentro, para quê insistir em mudar, em mehorar?
Politicamente, somos do benfica e do sporting, com alguns do vitória e também do boavista.
Mas na verdade somos é cegos, quase um povo de cegos e burros, onde alguns têm olho e arreata.
Cada dia temos uma albarda maior.
Quando é que mandamos o bispo de Lamego pela ribanceira abaixo?
Quando souberes avisa.