Esta foto de PAULO DÂMASO, que com a devida vénia sacámos daqui, mostra-nos Hipólito Luís, Remígio Gonçalves e António Santos junto à réplica do bacalhoeiro “João Costa”, naufragado há 56 anos.
Estes, são três pescadores ainda vivos que seguiam a bordo do navio que naufragou em 1952.
A tragédia, ocorrida há 56 anos (precisamente no dia 24 de Setembro de 1952, cerca das 20 horas, ontem lembrada na escola EB1 da Cova-Gala, envolveu outros “velhos lobos do mar”, que ainda conheci, e que aqui recordo com saudade. Entre outros, António Paxita, Alberto Curado (Motorista), António Penicheiro, Remígio Lima (Má Cara), Arnaldo Marques, que foi quem deu o alarme de fogo na casa das máquinas), pode ser exaustivamente recordada no livro de Manuel Luís Pata, “A Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau”, volume II, páginas 347 a 351.
A título de curiosidade, sabem como foram tratados os pescadores, depois de salvos e instalados na Casa dos Pescadores em S. Miguel, nos Açores?
António Paxita, no livro de Manuel Luís Pata, deu a resposta:
“deram-nos roupa, cuecas, camisola interior, meias, sandálias e uma boina. O pior foi quando chegámos à Figueira e fomos receber o valor do peixe que tínhamos pescado, descontaram-nos 390 escudos da roupa que nos tinham dado”.
Isto, apesar do Jornal do Pescador ter noticiado que o comandante Tenreiro tinha telegrafado para os Açores, para a Casa dos Pescadores de Ponta Delgada, a dar instruções para dispensarem todos os cuidados necessários aos náufragos do João Costa ...
“Bem, deram-nos alojamento e comida, mas a roupa tivemos que a pagar...”.
“Eram mais as nozes que as voz”, diz com ironia o velho pescador no livro de Manuel Luís Pata.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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