«Os defensores do Não lembraram-se de vir dizer que, caso o Não vença, irão propor a despenalização do aborto na Assembleia da República. Esta posição é de um oportunismo doentio e de uma tremenda falta de respeito pelo eleitorado.
Mais pormenores aqui.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
6 comentários:
As razões do meu SIM
A campanha pelo referendo à despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) parte de um pressuposto errado muito por culpa dos fundamentalistas do NÃO. É querem fazer acreditar (e todos os do NÃO são fundamentalistas) que o que está em causa é quem é contra ou a favor do Aborto.
Bem, começo por dizer que acredito que as próprias mulheres que se vêm na contingência de o fazer também não serão a favor. São levadas por fortes razões, sejam elas económicas, sociais ou de outro cariz. Que é uma decisão muito difícil, muito pessoal, muito íntima, não há dúvidas nenhumas.
O que está em causa é a despenalização, e aí vai uma das razões que me levam a votar SIM: quem sou eu para considerar criminosa uma mulher que decida interromper a gravidez? Não me atribuo autoridade moral para o fazer.
Por outro lado, o aborto é um flagelo social tão grande, como o desemprego, a fome, a miséria, a pobreza, tudo isso características da sociedade capitalista baseada na exploração agora desenfreada, com a imposição do neo-liberalismo, do homem pelo homem. Pois se o aborto deverá ser proibido, proíba-se o desemprego, a fome, a pobreza. Mas isso não agrada aos defensores do NÃO.
Estes mais não querem do que tapar o sol com a peneira, pois com a penalização do Aborto sabem que não conseguem acabar com o flagelo, o que redunda em hipocrisia no estado puro. Com a despenalização consegue-se que se efectue em condições cirúrgicas dignas, poupando vidas de muitas mulheres, como também a redução do problema, mesmo que seja numa percentagem reduzida. Para não falar nos gastos de tratamento de mulheres que fazem a IVG em condições que qualquer um consegue imaginar.
Sabe-se que nos países desenvolvidos a IVG está despenalizada – Holanda, 24 semanas, que eu acho um exagero, Finlândia 20 semanas, outro exagero, e por aí fora. Agora dados de 1998: na Holanda perto de 20% das mulheres fizeram pelo menos um aborto. No Chile, onde é terminantemente proibido calculava-se próximo dos 40% a percentagem de mulheres que tinham feito pelo menos uma interrupção. Isto atesta que o problema, apesar de não só explicado por isso, é maioritariamente económico.
Se o aborto é um mal, não tenhamos dúvidas que o aborto clandestino é uma catástrofe.
Alexandre Campos
Esta semana vai aquecer com o radicalismo do Não a entrar na onda do terrorismo verbal abençoado pelo Clero católico. Esse mesmo que se preocupa tanto com a dignidade da mulher mas interdita a ordenação de mulheres sacerdotes. Esse tão democrático e que tem uma hierarquia não eleita, mas sim nomeada e excomunga vozes divergentes. Esse que preserva tanto a vida mas perseguiu judeus, manteve séculos de terror com a Inquisição, foi cúmplice da escravatura, que fechou os olhos ao nazismo, que andou de braço dado com o salazarismo, que conspirou contra o liberalismo...
Que falta de vergonha na cara! Que manipulação das consciências ignorantes!
"Sendo a esmagadora maioria dos portugueses educada segundo os valores éticos e morais da igreja católica (a vida & etc...), porque será que os católicos temem que a legalização do aborto leve à generalização da sua prática em Portugal? Não confiam no bom senso das portuguesas ou, simplesmente, reconhecem que a catequese não serve para nada?
A Holanda, que não é maioritariamente católica e onde o aborto é legal até às 24 semanas, regista, por exemplo, uma das menores taxas de aborto da União Europeia. Pelos vistos não precisam de curas e beatos que lhes estejam sempre a lembrar quanto vale uma vida."
-extraído do blog de Marmelo e Silva
ABORTEM A IDEIA
Queria aqui dizer e subescrever tudo que o Castelo de Areia retrata no seu post, mas também pedir a todos os bloguistas que visitam este blog que o mais importante é mesmo ir votar, são por ventura as eleições mais que justas que temos de fazer, Votar SIM.
Uma história real:
Tenho u8ma tia, que abortou 4 vezes!!
Mas vai votar não porque agora acha que o que o padre disse na missa é que é importante.
É desta injustiça que eu tenho medo, por isso e muito mais vou votar SIM
A ignorância e o obscurantismo partidário cegam mais que a areia nos olhos.
Ainda há quem vá votar e não saiba porquê ou em quê.
Ainda há quem pense que isto são eleições.
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